A madrasta Jaira Gonçalves de Arruda, de 43 anos, acusada de matar envenenada a enteada Mirella Poliana Chuê de Oliveira, de 11 anos, vai a júri nesta quinta-feira (9), em Cuiabá.
Jaira foi denunciada pelo feminicídio da enteada, e está presa desde 9 de setembro de 2019. A motivação do crime seria a herança que a menina tinha direito, fruto de uma indenização por erro médico pela morte da mãe no parto dela, no valor de R$ 800 mil.
Mirella morreu em 14 de junho de 2019, após ser internada em um hospital particular da capital. Através de exames, foram detectadas duas substâncias no sangue da vítima: uma delas veneno que provoca intoxicação crônica ou aguda e a morte.
Exames complementares necropsia constataram a presença do defensivo agrícola carbofurano no corpo da menina.
O processo com mais de 3 mil páginas, reúne depoimentos de dezenas de testemunhas, laudos e relatórios de perícias. A estimativa da Justiça é que este julgamento dure ao menos dois dias. Se condenada, Jaíra pode pegar até 20 anos de prisão.
Para a polícia, a mulher queria ter acesso a R$ 800 mil que a menina recebeu de um hospital como indenização pela morte da mãe dela no parto. Mirela só teria acesso aos valores quando completasse 18 anos.
ENTENDA
Mirella nasceu no início da madrugada do dia 22 de novembro de 2007 e poucas horas depois Poliane sua mãe começou a sentir fortes dores, chamou a enfermeira a qual enformou que estava tudo bem e que só poderia ser atendida pelo médico no outro dia.
Poliane teve uma hemorragia, sofreu duas paradas cardíacas e foi encaminhada para a Unidade Terapia Intensiva (UTI), onde morreu.
A condenação do hospital saiu em 2013, cinco anos depois. A menina receberia uma herança fruto de uma indenização por erro médico pela morte da mãe no parto dela, no valor de R$ 800 mil.
Até 2018, a menina era criada pelos avós paternos, que faleceram. Então, a garota passou a ser criada pelo pai e madrasta.
INVESTIGAÇÃO
A investigação da Polícia Civil apontou que Jaira era a única responsável pelos cuidados da criança, indicando ser ela a autora do crime, apesar de negar. A vítima foi envenenada lentamente entre abril e junho de 2019, apresentando problemas neurológicos, náuseas, vômitos e um grande sofrimento. Foram 7 internações hospitalares até a morte.
No dia que a criança morreu, Jaira prestou seu primeiro depoimento ao delegado plantonista Marcel Oliveira. O que era para ser apenas um depoimento informativo, levantou suspeitas, pois ela carregava uma pasta com todas as receitas e documentações de internações, demonstrando saber detalhes.
Foram, ao todo, nove internações em dois meses. Ela recebia diagnósticos de infecção, pneumonia e até meningite. Na última vez em que foi parar no hospital, a menina já chegou morta. O hospital não quis declarar o óbito, mas suspeitava ser meningite.
Na ocasião, foi acionada a Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), que diante de falta de evidências sobre morte violenta, requisitou vários exames por precaução. Em um deles, foi detectada a substância venenosa no sangue da menina. Naquele dia Jaira confirmou que ela era a única responsável pela alimentação e cuidados com a menina.
CRIME
As investigações da Delegacia Especializada de Defesa da Criança e do Adolescente (Deddica) concluíram que Jaira cometeu o crime para conseguir a herança da vítima, de R$ 800 mil. Mirela só teria acesso aos valores quando completasse 18 anos.