A nova novela da TV Globo “Nos Tempos do Imperador” finalmente teve a sua estreia no último mês de agosto. Após alguns adiamentos, o folhetim promete trazer de volta um Brasil que há muito já não existe, exceto em algumas construções que sobreviveram aos anos. É uma iniciativa interessante, porque sabemos que nosso país sofre de falta de memória, e toda oportunidade de relembrar glórias do passado é muito bem-vinda.
Mas indo além do Theatro Municipal, do Jardim Botânico ou até mesmo do Museu Nacional (todos no Rio de Janeiro, então capital imperial), há hábitos e costumes que se foram junto com D. Pedro II. Vamos entrar no túnel do tempo e lembrar como era a vida há 150 anos.
O período do Segundo Império foi marcada por profundas transformações sociais. Ou ao menos era o que se pensava. Se compararmos com tudo o que aconteceu um século depois, nos anos 1960, pode-se achar que a época de Machado de Assis foi fichinha. Mas havia sim muitos movimentos republicanos e abolicionistas, então para eles eram tempos de agito.
Política à parte, temos os costumes. Em 1860, cavalheiros deviam usar necessariamente um chapéu ao sair de casa. E era uma norma básica de educação removê-lo ao cumprimentar alguém, especialmente uma senhora ou senhorita. Estas, por sua vez, deveriam manter o decoro em suas roupas, que deviam cobrir pernas e braços – mesmo com os termômetros batendo 40ºC na capital fluminense. Para as damas mais abastadas, chapéus também eram itens indispensáveis, parte da moda, mas elas não precisavam removê-los ao serem cumprimentadas.
Ao contrário de hoje, ter a pele bronzeada não era um padrão estético desejado. Com as damas de classe cobertas pelos longos vestidos, uma pele morena indicaria uma classe social baixa, alguém que precisava se expor ao sol, trabalhando. Bonito era ter a pele o mais clara possível, quase transparente.
Dessa forma, tomar sol na praia era algo impensável. Os locais para ver e ser visto eram os parques, geralmente ajardinados em estilo francês, ou as confeitarias, como a tradicional Colombo. Tomar um café com bolo em uma elegante casa era uma herança direta do Império Austríaco que, por sinal, estava na ascendência de nosso imperador, filho de uma princesa Habsburgo.
Outra atração dos anos 1860 eram os cassinos. Lugares como o Rio de Janeiro eram famosos pelas luxuosas propriedades, como a da Urca. O palácio quitandinha, em Petrópolis, era igualmente sofisticado. Neles, as senhoras elegantes e os cavalheiros engravatados desfilavam entre as mesas de jogo, talvez pitando uma cigarrilha. Esses estabelecimentos se foram, mas a diversão de então continua nos dias de hoje com os jogos de cassino ao vivo online, que oferecem a comodidade de serem acessíveis no exato momento que lhe for mais conveniente. Naquela época, era necessário subir em uma carruagem para chegar a uma roleta.
Aliás, esta é outra grande diferença – o transporte. Carros não tinham sido inventados, aviões muito menos. Para longas distâncias, as opções eram o trem ou o navio. Nos dois casos, movidos à vapor. Dentro das cidades, charretes, carruagens ou cavalos e, para cargas, carros de boi. Imagine a Avenida Brasil congestionada por equinos e bovinos….
A eletricidade também era apenas um sonho. A iluminação das casas era feita por velas ou candeeiros, e nas ruas havia lampiões, que precisavam ser acessos no fim do dia e apagados ao amanhecer. Um funcionário público era encarregado da tarefa, e felizmente (para ele) a cidade era muito menor do que é hoje. Pouco tempo depois, os lampiões passaram a usar gás e o pobre estafeta perdeu seu emprego.
Poderíamos discutir os aspectos menos bonitos daqueles tempos (o saneamento básico era precário, por exemplo), mas na trama da Globo, certamente veremos mais o lado bonito, possivelmente com certa romantização. E não podemos culpar a emissora. Se fosse para mostrar a história nua e crua, seria um documentário, não uma novela. A teledramaturgia vive do belo, do charmoso e do saudoso. E não se pode negar que tudo isso pode ser fartamente encontrado nos tempos do Imperador.