O número 2 do Ministério da Educação, Victor Godoy Veiga, é até o momento o nome mais cotado para substituir Milton Ribeiro, que deixou a pasta depois de um escândalo envolvendo pastores.
Veiga ocupa o cargo de secretário-executivo do MEC e é servidor de carreira na Controladoria-Geral da União onde atuou como auditor entre 2004 e 2020, quando foi convidado pelo então ministro a ocupar a posição.
Ao pedir sua demissão, Ribeiro disse que em agosto do ano passado pediu à CGU que investigasse a atuação dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura no MEC.
A investigação foi concluída em 3 de março deste ano. A CGU isentou agentes públicos, mas concluiu que existe indícios de irregularidades de “terceiros“, que não foram identificados, na liberação de recursos do ministério.
A Conclusão da investigação foi encaminhada à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.
ALINHAMENTO COM RIBEIRO
O possível titular do MEC é conhecido por ter alinhamento com o modus-operandi de Milton Ribeiro. Veiga sempre teve privilégios dentro do ministério, e participava de importantes decisões.
Em suas redes sociais, Victor destaca um vídeo do presidente Jair Bolsonaro, em que conta ter recebido uma pessoa para “ouvir suas contribuições” a “pedido” do chefe do Executivo para “apresentar sua ideia para auxiliar o MEC na transformação da educação brasileira”.
O currículo do secretário-executivo, divulgado pelo MEC, diz que ele é formado em engenharia de redes de comunicação pela Universidade Nacional de Brasília (UnB) e fez pós-graduação na Escola Superior de Guerra e na Escola Superior do Ministério Público.
POLÊMICAS
Segundo uma reportagem da Folha de S.Paulo, Victor Godoy Veiga teria atuado para proteger a Universidade Filadélfia (UniFil), de Londrina, de ser investigada pela Polícia Federal (PF) depois de indícios de fraude no Enade envolvendo o curso de biomedicina da instituição.

A investigação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) concluiu haver indícios estatísticos de fraude, após a coordenadora da graduação ter tido acesso à prova e às respostas com antecedência.
A UniFil é ligada à Igreja Presbiteriana, e recebeu a visita de Milton Ribeiro em setembro de 2020. O então ministro tratou do caso pessoalmente, e depois de receber os controladores da instituição em Brasília, viajou a Londrina no meio do processo, acompanhado de Victor Godoy.

O chanceler da UniFil é o pastor presbiteriano Osni Ferreira e seu irmão, Eleazar Ferreira, é o reitor. Osni e Eleazar se encontraram com Ribeiro em Brasília no dia 02 de setembro de 2020.
Osni e Eleazar, além da UniFil, possuem negócios em Londrina. Entre as empresas está uma agência dos Correios, que presta serviços à universidade, e também uma escola de supletivo e de cursos preparatórios.
A investigação interna do MEC contra a instituição já estava em fase adiantada quando a visita aconteceu. Naquele mesmo mês, no dia 26, Milton Ribeiro viajou à Londrina em um sábado, e sem assessores, para visitar a instituição. Na universidade ele deu uma palestra, e concedeu uma entrevista à TV universitária.
Durante a apuração das suspeitas, o ministro protelou o envio do caso à Polícia Federal, mesmo tendo a área técnica e a Procuradoria do Inep concluído que havia a necessidade de investigação criminal sobre o caso desde meados de 2020. O ministro teria, inclusive, chegado a ameaçar de demissão lideranças do Inep caso o processo fosse levado à PF.
O recado teria sido dado pelo secretário-executivo da pasta, Victor Godoy Veiga.
Em conversas e durante reuniões que aconteceram no MEC, Milton Ribeiro e Veiga foram claros sobre as motivações para impedir a apuração criminal: tratava-se de uma instituição presbiteriana.
Um ofício foi encaminhado à Polícia Federal em fevereiro do ano passado, depois que o MEC encerrou a investigação de forma favorável. As evidências estatísticas da fraude, apuradas pelo Inep, foram absolutamente ignoradas na decisão.
Por meio de uma nota, o MEC informou na época que o caso havia sido enviado à autoridade policial. “Toda a apuração foi realizada pelo MEC de maneira técnica, observando-se os dispositivos legais. Todos os atos administrativos praticados estão adequadamente registrados no processo administrativo encaminhado na íntegra à Polícia Federal pelo MEC em fevereiro de 2021”, dizia a nota do ministério.
Já a UniFil não respondeu aos questionamentos acerca do assunto.