Jovem de Maringá é ofendida por conta de suas roupas ao receber carta de reclamação do vizinho

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Ana Paula conta que achava que a carta era um bilhete de boas-vindas/ Foto: Arquivo pessoal

A jovem Ana Paula Benatti, 22 anos, teria acabado de se mudar para um novo condomínio em Iguatemi, um distrito de Maringá, quando foi surpreendida por uma carta. Por volta das 18h, momento em que chegou do seu trabalho, a menina conta que avistou um envelope preto em sua porta, como ainda não tinha conhecido nenhum outro morador, Ana Paula afirma que acreditava ser um bilhete de boas vindas:

A princípio pensei que era algo de boas-vindas ou relacionado à mudança. Na hora que li aquelas palavras comecei a sentir repulsa, nojo, comecei a chorar muito porque não queria acreditar naquilo.

Ao abrir a carta, a jovem teve uma surpresa, mas, diferente do que se esperava, ela teve uma surpresa negativa. O bilhete se tratava de uma carta enviada por um vizinho, nela o morador reclamava das roupas utilizadas por Ana Paula.

No papel, o vizinho iniciava a carta com a seguinte frase:

Gostaríamos que tivesse o pudor e decência de usar roupas adequadas nas pendências do condômino.

O homem continuou ofendendo a mulher ao longo da carta:

A senhora não está tendo o respeito usando roupas vulgar. Não sei de onde veio, mas aqui mora gente de família.

No final da carta, o vizinho de Ana Paula encerra o texto com uma ameaça, ele pede para a mulher mudar a forma de se vestir, senão ele entraria em contato com a proprietária do imóvel.

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Confira a carta que a jovem recebeu de seu vizinho

Ana Paula Benatti conta que pensou em ignorar o acontecimento. Em entrevista ao G1 a menina afirma que refletiu muito sobre a situação: ”O que eu fiz de errado? A pessoa cita que não sabe da onde eu vim mas que lá (no condomínio) não é zona, então quis insinuar que eu era uma prostituta. Eu trabalho em UTI de um hospital. Mas mesmo que eu fosse o que ele sugere, não teria direito algum de falar isso”. 

Dessa forma, a menina decidiu não deixar o homem sair impune. A carta foi enviada em anonimato mas, mesmo assim, Ana Paula postou uma foto do documento, no dia 7 de maio, em suas redes sociais como forma de desabafo. A jovem anexou uma foto do bilhete, alegando que estava totalmente abalada com os crimes morais que foram cometidos contra sua pessoa: “Calúnia, difamação, assédio, perseguição. Crimes morais. Estou totalmente abalada com o ocorrido, tomarei as providências cabíveis”, escreve a jovem. 

Depois disso, na terça feira, 11 de maio, a jovem se dirigiu à Polícia Civil e registrou um boletim de ocorrência. Ana Paula conta que os responsáveis pelo condomínio também foram falar com ela. O síndico informou que todos os moradores seriam notificados e, além disso, o advogado da menina iria checar as câmeras de segurança do prédio para identificar o responsável pela carta.

A moça acrescenta que a carta ficou na posse do delegado, uma vez que se trata de “uma prova de crimes como calúnia e difamação“, informou.

Violência contra a mulher

Felizmente, Ana Paula ressalta que a ação do vizinho não vai impedi-la de se vestir da maneira que quiser: “Como trabalho no hospital, vivo com roupas de lá, mas em casa normalmente estamos de shorts e blusa. Estamos em 2021 e ainda tem gente que julga por conta do que vestimos“. 

Além disso, a moça aborda um assunto importante: o fato de muitos homens ainda buscarem justificativas para abusos e assédios cometidos. Foi o caso da influencer Mariana Ferrer, que foi estuprada em uma festa no ano de 2018. Segundo o promotor responsável pelo caso, o homem “não teria a intenção de estuprar”, considerando que o criminoso não conseguiria saber que a jovem não estava em condições de consentir o ato. Assim, o crime foi considerado, praticamente, como uma espécie de “estupro culposo“. 

Ana Paula adiciona: “Isso só reforça esse pensamento de ‘foi abusada porque estava com roupa curta’ ou ‘estava provocando’ e não é assim. Me assusta pensar que uma roupa pode ser a justificativa para um crime ou uma situação como essa que passei“. 

Quando se aborda sobre violência contra a mulher, é importante saber que a lei não as protege somente de agressões físicas, mas, também, resguarda a mulher de agressões que ferem sua autoestima e sua moral. Além de repudiar atos que as ferem psicologicamente e sexualmente, como também, ações que limitam seus direitos como cidadã.

 

 

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