O futebol argentino nunca mais foi o mesmo depois do dia 25 de junho de 1994. Uma era de ouro chegou ao fim assim que Diego Armando Maradona entrou no túnel do Foxboro Stadium, nos EUA, para fazer um exame antidoping na Copa do Mundo daquele ano. O resultado do teste esmagaria a carreira do ídolo argentino, que nunca mais voltou a vestir a camisa da seleção de um país que nos anos seguintes procurou um substituto à altura.
Mais de duas décadas depois, Lionel Messi também encerra sua carreira na Argentina de forma melancólica, também nos EUA, e poucos dias depois de comemorar seu 29º aniversário. O craque do Barcelona foi aquele que chegou mais perto de acabar com o fantasma de Maradona, mas fracassou ao chegar em quatro finais e não levantar a taça em nenhuma.
Messi sempre terá um asterisco em sua biografia vencedora. Mesmo na Argentina, onde teve inúmeras apresentações mágicas com a seleção, e tornou-se o maior artilheiro de todos os tempos, superando Gabriel Batistuta. No entanto, será sempre lembrado que ele jamais conquistou um título profissional por seu país.
Diego deu aos hermanos uma Copa do Mundo, e Messi não. Esse é o simples fato de que vai viver com ele até o fim de sua carreira, a menos que possa de alguma forma mudar de ideia sobre a aposentadoria e voltar para a Copa da Rússia de 2018. Mas ele também teria que enfrentar um desafio ainda maior: a imprensa argentina. Os mesmos que colocaram esse enorme peso do título em suas costas e têm tanta dificuldade que colocá-lo ao lado do D10S.
A verdade é que o jejum de 23 anos da argentina também se deve à procura doentia por um substituto para Maradona. Mesmo com cinco títulos mundiais e craques como Ronaldo, Rivaldo, Romário, Zico, e até mesmo Neymar, o Brasil jamais tentou substituir Pelé. Nem o maior rival de Messi, Cristiano Ronaldo, foi pressionado para ser a reencarnação de Eusébio em Portugal.
Outro camisa 10 também sofreu com o fantasma de Maradona. Juan Roman Riquelme precisou lutar contra as comparações não apenas na Argentina, mas também no Boca Juniors, onde teve mais sucesso em fazer o torcedor esquecer do Pibe. E não para por aí: Marcelo Gallardo, Pablo Aimar, Carlos Tevez, Andres D’Alessandro… Todos foram apontados como um ‘Novo Maradona’ no início de suas carreiras. Messi era o que mais parecia destinado a ocupar o lugar, mas ainda assim ficou aquém.
O autor uruguaio Eduardo Galeano escreveu: “Diego Armando Maradona era adorado não só por seu talento prodigioso, mas porque era um Deus sujo, um pecador, o mais humano dos deuses. Qualquer um poderia ver nele uma síntese viva da fraqueza humana, ou pelo menos da fraqueza masculina. Adúltero, bêbado, trapaceiro, mentiroso, fanfarrão, irresponsável, mas os deuses, por mais humanos que sejam, não se aposentam.”
Talvez esteja aí o segredo. Maradona era craque, ídolo, vencedor, mas nunca deixou ser humano, errando e falhando inúmeras vezes dentro e fora de campo. Por sua vez, Messi sempre trabalhou para ser tão perfeito, que tamanha perfeição jamais atingiu em cheio os corações dos argentinos.
Messi ainda vai voltar para casa na Argentina, mas não será mais sua casa no mundo do futebol. Barcelona agora se torna o centro do seu universo esportivo, a cidade onde ele é idolatrado sem a quaisquer comparações dolorosas com Maradona que qualifiquem sua grandeza. E sua aposentadoria é uma perda catastrófica para a Albiceleste. O capitão foi ao inferno para escapar da sombra de Maradona, mas nem ele consegue fazer o que ninguém pode.