A morte de um bebê de apenas dois anos em Maringá causou comoção e revolta nas redes sociais, depois da mãe denunciar negligência médica e falta de leitos de UTI para internar a criança.
O pequeno Matteo Araújo teve complicações e não resistiu depois de uma batalha entre hospitais e clamores de ajuda por parte da mãe, Kelly, que em um desabafo disse que suplicou para que seu bebê fosse submetido a exames mais complexos, ainda quando os sintomas eram mais leves.
Matteo começou a apresentar tosse seca no último dia 27/05. Segundo a mãe, a criança era saudável, mas começou a ter sintomas de síndrome respiratória depois de frequentar a creche por uma semana.
— Ele era muito saudável, porém vinha ficando muito doente depois de começar a frequentar a escolinha. Eu vinha cuidando com o médico dele, remédios para imunidade […] A penúltima vez que ele ficou ruim, eu levei ao médico e perguntei se era normal. Ele disse que todas as crianças estavam ficando assim – contou Kelly.
Matteo retornou à creche na última semana de maio, e de acordo com a mãe o menino estava aparentemente bem e seguiu frequentando as atividades durante uma semana, antes de ter uma piora súbita que levou à sua morte neste sábado (04/06).
“Na segunda-feira (30) eu levei ele ao médico. Ele estava amoadinho e apresentava febre. O médico examinou o pulmão e disse que estava começando uma infecção, e receitou amoxilina. Eu perguntei se não era o caso de fazer um raio-X. O médico disse que não, porque era uma coisa séria e não se fazia assim”, prossegue.
Kelly, então, procurou consulta com outro médico em outro hospital, e novamente teve o pedido para um raio-X negado. Ela conta que na segunda consulta, dessa vez com uma médica, foi receitada uma injeção, inalação e um xarope antialérgico para administração caseira.
— Ele teve uma melhora, e eu fui pra casa um pouco mais tranquila. Mas na terça-feira (31) vi que ele estava muito mole e sonolento. Por telefone mesmo pedi uma guia de raio-X e fizemos os testes de Covid-19 e dengue, que apresentaram resultado negativo. Mas o raio-X revelou que meu filho tinha metade do pulmão comprometido, e a médica de plantão disse que ele estava com pneumonia e deveria ser internado imediatamente – diz.
A mãe conta que a partir desse resultado, passou a procurar desesperadamente um leito de UTI para que a criança fosse tratada. Mas tudo o que conseguiu foi uma cama pediátrica e uma máscara de oxigênio, o que não foi suficiente para a recuperação do bebê, já que o caso era grave e requeria um leito avançado.
“Meu filho estava com a respiração cansada e cada vez mais abatido. Ele também tinha sangramento pelo nariz, e eu não sabia o que fazer. Perguntei a uma médica de plantão, e ela disse que aquela situação era normal, e que dentro de 48 horas o medicamento começaria a fazer efeito”, conta.
Kelly relatou que nas horas que antecederam a morte do filho foram de muito sofrimento e angústia para ela e principalmente para a criança. Ela relata em seu desabafo que o bebê precisava de um leito de UTI mas que não havia vaga disponível. A mãe também lamentou o fato de ter tido os pedidos de raio-X iniciais negados, e argumenta que eles poderiam ter antecipado a gravidade da situação se o exame tivesse sido feito.
“Ele acordou desesperado no dia seguinte, tirando a máscara [de oxigênio] e tinha sangue na boquinha. Cheguei a pensar que ele havia se mordido […]”
— Mas nesse último surto de angústia e desespero dele em tirar a máscara, foi onde eu pude ver o fim de tudo. Ele estava muito fraco, eu e minha mãe já não tinha o que fazer – lamenta.
A mãe conta que nesse momento pediu por socorro a uma enfermeira, que ajudou com outra máscara. Em seguida ela ligou ao médico para quem havia solicitado o exame de raio-X inicial, e implorou ao profissional que fosse até o hospital para salvar a criança. Já era tarde demais.
— Eu pedi por uma UTI e não tinha disponibilidade. Por que ninguém fez nada? Por que não tinha UTI? Precisou meu filho chegar morrendo para improvisarem um leito para ele. Meu filho estava com o pulmão sangrando, e isso explicou o sangue no nariz e na boca. Ele perdeu muito sangue, os médicos tiveram que fazer uma transfusão de emergência. Mas o coração dele parou – relata Kelly emocionada.
Em uma publicação nas redes sociais, a mãe acusou negligência médica e disse ainda que desde o início da internação da criança, a urgência era por um leito de UTI, mas que os profissionais médicos insistiram em outros tratamentos que não foram eficazes, e o estado do bebê só piorou.
O caso chamou a atenção e fez até mesmo com o prefeito de Maringá, Ulisses Maia, emitisse uma declaração pública lamentando pela morte da criança. O óbito ocorreu no Hospital Santa Rita, unidade particular, mas que também pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em boa parte dos comentários sobre a instituição, reclamações falam em demora no atendimento e atendimento ruim.
Lamentamos muito a morte do pequeno Matteo Araújo. Que Deus possa confortar a mãe, Kelly, e todos os familiares. Nem imagino o tamanho dessa dor. Minha solidariedade. Estou à disposição para apoiar no que for preciso e ajudar na investigação do que ocorreu no hospital particular.
— Ulisses Maia (@UlissesMaia) June 5, 2022
A reportagem do 24H News tentou contato com a instituição neste domingo (05) mas não houve retorno até o fechamento desta reportagem.
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