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Opinião: É preciso um amplo debate sobre a Rua Paranaguá

Assim como o jovem tem direito do seu lazer, o morador também tem direito ao descanso. É preciso discutir alternativas.

Derick Fernandes - Jornalista

As cenas lamentáveis da violência da PM e GM com o uso de bombas de efeito moral e balas de borracha contra frequentadores da Rua Paranaguá, no Centro de Londrina, pegaram muito mal para o prefeito Marcelo Belinati.

Desde o início da gestão belinatista, Londrina vem adotando medidas para coibir a reunião de pessoas em bares, lanchonetes e restaurantes, e ‘criminaliza‘ a vida noturna na cidade como se o papel do jovem londrinense fosse apenas trabalhar, pagar impostos e ficar em casa.

É evidente que a Rua Paranaguá e suas adjacências são fruto de um erro grotesco cometido pelos próprios políticos locais. A questão do zoneamento incompatível permitiu que ali naquela rua coexistissem os bares com seu movimento e dezenas de prédios residenciais.

O resultado não poderia ser pior. Era óbvio que em pouco tempo haveriam reclamações de cidadãos que tem o seu direito ao descanso resguardado, contra aqueles que querem trabalhar ou buscam apenas lazer em uma cidade sem muitas ofertas para os jovens.

Convenhamos, em Londrina prevalece a política da proibição sem alternativas. Não estamos defendendo aqui a baderna, a desordem e tampouco o fuzuê que castiga os moradores dos arredores das ruas Santos e Paranaguá. Mas sim que a cidade passe a definir locais onde os jovens possam ir, sem causar incômodo a ninguém, e aproveitar as noites dos finais de semana em uma cidade com mais de 50 mil universitários.

O que se pode fazer em Londrina? Se reunir com amigos em uma praça após 22h para tomar uma cerveja, é proibido. Qualquer bar que ouse ter movimento ao longo da noite, será reprimido até que seu movimento acabe, sob a justificativa de tal lei ou da perturbação de sossego.

E o aviso vai de antemão: o mesmo vai acontecer na Avenida Waldemar Spranger, que hoje reúne alguns bares, mas logo com os prédios em construção nos arredores esses estabelecimentos se verão na mesma situação que ocorre na Paranaguá.

Fato é que a vida noturna na segunda maior cidade do Paraná está sendo destruída, e dessa forma, Londrina vai se tornando desinteressante aos jovens que mudam-se para cá a estudo ou a trabalho, e não muito tempo depois querem ir embora. Qual a vantagem de se morar em uma cidade universitária onde ser jovem parece proibido?

É preciso eleger ruas e avenidas, em que bares, restaurantes e boates não sejam uma dor de cabeça para moradores. Se faz necessário o bom senso da prefeitura em entender que em Londrina existem jovens que querem sua diversão sim.

Não sejamos hipócritas, quem estuda e tá na casa de seus vinte e poucos anos quer sim se encontrar nas ruas, quer ocupar espaços, ir nas cervejadas e sair com os amigos. Mas a grande dúvida em Londrina é: onde será permitido? Onde o jovem pode ir em Londrina?

Quando esse movimento ocorreu na Avenida Higienópolis, logo as autoridades o reprimiram. O mesmo aconteceu no Zerão, no longínquo Jardim Botânico (até lá, quase no meio do mato) e agora, na Rua Paranaguá. Imagina se em São Paulo, decidissem extinguir a Rua Augusta, ou no Rio de Janeiro a Lapa com seus bares e badalada vida noturna fossem meramente extirpados?

A lição passada tanto pelo Rio quanto por São Paulo é que existem lugares apropriados para essas atividades. Quem decide morar na Lapa por exemplo, sabe que ali é uma zona comercial especial voltada justamente para o comércio noturno. Não tem choro nem lero lero, você se muda pra Lapa sabendo que aos finais de semana a rua estará lotada de gente, e isso definido por zoneamento. Residenciais até são permitidos, mas os proprietários são logo avisados.

Lapa, no Rio de Janeiro: Ruas lotadas nos finais de semana e vida noturna efervescente. Conciliação entre zonas residenciais e locais de bares, boates e restaurantes.

Enquanto em Londrina, prevalece a política da proibição: Não pode isso, não pode aquilo, simplesmente não pode. Mas quando então nossos políticos vão perceber que a cidade também é composta pelos jovens, e que eles querem ter seu espaço? A política não pode enxergar a cidade somente de sua ótica higienista para marginalizar esse público.

Os moradores da Rua Paranaguá tem seu direito ao sossego, certamente. Mas se a prefeitura forçar um pouco mais seu pensamento – que hoje parece limitado – vai compreender que é preciso atuar agora para que a juventude continue existindo na cidade sem incomodar ninguém, isso é, definindo locais corretos para que bares de rua existam, gerem empregos, impostos, elevem o status da vida noturna e não seja um martírio para o morador.

Caso contrário, os jovens, que serão os responsáveis pelo desenvolvimento de Londrina, preferirão em um futuro próximo migrar daqui para construir suas vidas em outras cidades, sem essa pecha de que tudo é proibido, de que tudo não pode.

Londrina precisa ser uma cidade mais legal. Buscar meios de conciliar a sociedade. Não apenas reprimir e criminalizar a mocidade. Senão, logo nos tornaremos uma cidade envelhecida precocemente, e daqui a pouco choraremos as pitangas por isso. Afinal, a juventude quer alegria, quer música, bons eventos e aproveitar sua melhor descrição: a de ser jovem.


Esse artigo é uma opinião.

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