A história política de Ricardo José Magalhães Barros começa em Maringá em 1988. Naquele ano, filiado ao extinto PFL, ele se elegeu prefeito da cidade, a terceira maior do Paraná, se elegendo em seguida, no ano de 1992, ao primeiro mandato de deputado federal.
De lá para cá, Ricardo Barros nunca mais deixou o poder.
De 1995 a 2011 foram quatro mandatos consecutivos; ele ainda ocupou até 2014 a Secretaria de Indústria e Comércio na gestão de Beto Richa no governo do Paraná; voltou à Câmara Federal em 2016, e se reelegeu em 2018 para o sexto mandato.
Desde sempre nesta toada, entre a política paranaense e a federal, Ricardo Barros por muitas vezes chegou a ser citado e investigado em escândalos de corrupção. Em todas, a astúcia do deputado, conhecido por ser discreto e articulado, conseguiu se sobressair ao assunto.
Resultado disso é que os casos em que o deputado era investigado, nunca ganhavam notoriedade.
No Congresso, o Barros transitou entre os governos FHC, Lula, Dilma e Temer, até finalmente chegar ao governo Bolsonaro. Em todos, ele exerceu papel de líder ou vice-líder de governo, sempre próximo à alta cúpula da República. Na gestão Temer, chegou a ser Ministro da Saúde.


O jornalismo de dados abertos do Portal 24H levantou uma lista com base em fontes de credibilidade sobre o passado político de Ricardo Barros e identificou que ele já esteve envolvido em ao menos três polêmicas sobre desvio de dinheiro público ou recebimento de propina.
Veja a lista abaixo:
- Desvio de R$ 74 milhões em Maringá
Em reportagem de 2001, a Folha de S.Paulo destacou que dinheiro público desviado em Maringá fora usado para abastecer campanhas eleitorais e pagar despesas “por fora”. A época, Luís Antônio Paolicchi, ex-secretário da Fazenda de Maringá, foi preso como um dos principais envolvidos no escândalo.
Ele acusou que o valor havia sido desviado para financiar a campanha do então governador Jaime Lerner (im memoriam), além de deputados federais – entre eles estava Ricardo Barros, que havia sido reeleito em 1998.

- Acusação de desvio de R$ 8,7 milhões enquanto prefeito
No mesmo caso envolvendo Luís Antônio Paolicchi, o deputado Ricardo Barros foi processado por improbidade administrativa, pelo desvio de R$ 8,7 milhões dos cofres públicos de Maringá durante sua gestão como prefeito da cidade entre 1989 e 1992.
A investigação do Ministério Público apurava desvios milionários na gestão do então prefeito Jairo Gianoto, entre 1999 e 2000. Gianoto foi afastado após decisão judicial e a prisão de Paolicchi. O MP investiu também a gestão de Barros e constatou o rombo.
Na época, Ricardo Barros negou as acusações que pesaram sobre ele.
- Acusação de receber propina de R$ 5 milhões e processo por corrupção
Em setembro de 2020, o Gaeco cumpriu mandado de busca e apreensão no escritório político de Ricardo Barros em Maringá. O deputado já estava ocupando o posto de líder do governo Jair Bolsonaro na Câmara, e foi acusado de receber propina de R$ 5 milhões para intermediar negócios ligados à Companhia Paranaense de Eletricidade (Copel).
Na época, o Ministério Público revelou que as fraudes começaram entre 2011 e 2014, e que o deputado era investigado por corrupção e lavagem de dinheiro. Além do escritório dele, também houve busca e apreensão em São Paulo, contra um empresário ligado ao deputado.

As investigações contra Ricardo Barros envolvem fraudes na contratação de energia eólica, e começaram a ser apurados após delação premiada da empreiteira Galvão Engenharia.
RAÍZES POLÍTICAS
Além de ostentar uma carreira política como deputado federal, Ricardo Barros também é conhecido no Paraná por sua hereditariedade. Ele tem a esposa, Cida Borghetti, no Conselho da Usina Hidrelétrica de Itaipu – mas antes, ela foi vice de Beto Richa no governo do Paraná e tentou a eleição em 2018, perdendo para Ratinho Jr.
A filha do casal Ricardo-Cida é a jovem deputada estadual paranaense Maria Victória Borghetti Barros, que aliás, protagonizou um dos casamentos mais polêmicos de Curitiba, com direito a chuva de ovos.
CASO COVAXIN
A mais recente polêmica envolvendo o nome de Barros é o caso Covaxin, na mira da CPI da Pandemia. Segundo o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF), até então base do governo Bolsonaro, disse que o presidente relacionou o deputado paranaense em um “rolo” envolvendo a compra das vacinas Covaxin.
Barros foi o autor de uma emenda que abriu caminho para importação do imunizante indiano contra a Covid-19.
Segundo o depoimento de Luís Miranda, Barros teria sido o mentor de pressão sobre Luís Ricardo Miranda, irmão dele e servidor no Ministério da Saúde, para agilizar a compra do imunizante, mesmo com irregularidades sobre o contrato de US$ 45 milhões.

Convertido em reais, o montante soma quase R$ 220 milhões. A quantia seria transferida a uma empresa sediada em um escritório de contabilidade na Cingapura, um paraíso fiscal. A justificativa do governo é que essa empresa seria apenas uma “intermediária” que cuida dos negócios internacionais da fabricante Bharat Biotech.
Entre as irregularidades na compra da Covaxin, está a data de vencimento exíguo das vacinas, além do quantitativo de doses que seriam repassadas ao Brasil.
OUTRO LADO
Por meio das redes sociais, o deputado federal Ricardo Barros disse estar aberto a esclarecimentos e negou que tenha participado de qualquer negociação para compra da vacina Covaxin.
O deputado também negou que tenha feito pressão para agilizar o processo de exportação do imunizante.