Nem à esquerda, nem à direita. Nas eleições municipais de 2020, a maioria do eleitorado de Londrina deve optar por um prefeiturável posicionado ao centro, conforme prevê Elve Cenci, analista político e professor de ´Ética e Filosofia Política na Universidade Estadual de Londrina.
O resultado da escolha, provavelmente, atrasaria a retomada de um debate político mais robusto, em nível nacional. Cenci, no entanto, adverte: “A eleição municipal não será uma disputa PT x PSL”, afirma. Na edição de quarta (15), Cenci acredita que o prefeito Marcelo Belinati deve protagonizar as eleições deste ano.
Aviso aos postulantes a um cargo público nas próximas eleições: não é de bom tom, digamos, “colar” a imagem à figura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ou a do ex–presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Melhor também não vincular a candidatura ao governador Ratinho Júnior.
Confira a segunda e última parte da entrevista de Elve Cenci, concedida à reportagem do 24 Horas. O analista político aborda, de forma incisiva, inclusive, o embate de ideologias alinhadas à direita e à esquerda, em Londrina.
Os candidatos posicionados à direita, centro-direita e/ou alinhados com ideais conservadores teriam mais chances de conquistar a simpatia – e o voto – dos eleitores de Londrina?
O eleitorado de Londrina já votou de forma massiva na esquerda. Hoje parece ter optado pela direita. Porém, a eleição municipal não é uma disputa PT x PSL. O cenário mostra uma disputa mais ao centro. E uma disputa com uma agenda de centro acaba esvaziando a guerra em curso no cenário nacional. Outro aspecto importante é que a eleição municipal, com raras exceções, costuma focar em questões locais.
Quais as chances dos candidatos alinhados à esquerda ou centro-esquerda conquistarem a simpatia – votos, né? – dos eleitores de Londrina? A pecha de “petistas, comunistas e esquerdistas” ainda pesa?
A esquerda, em Londrina, não vive um bom momento. A administração Nedson [Micheleti] deixou um desgaste expressivo na imagem do PT. O PSOL ainda é um partido muito pequeno. E as demais forças de esquerda não são expressivas o suficiente para alavancar uma candidatura em condições de disputar as eleições com chances de vitória. Não podemos esquecer que no Paraná a esquerda nunca teve muita força. Em parte, é reflexo da região em que vivemos. No chamado circuito do agronegócio, o PT sempre perdeu as eleições nacionais.
Bolsonaro seria um bom cabo eleitoral, mesmo com a queda de popularidade? O apoio do governador Ratinho Júnior seria importante, mesmo com a insatisfação popular causada pelo decreto da quarentena?
Muitos candidatos tentarão colar sua imagem na figura de Jair Bolsonaro. Não acho que vá fazer muita diferença. Como ressaltei, a eleição é local e as pessoas estão mais interessadas nas questões locais. E os candidatos, pelo menos se seguirmos a nossa tradição, conseguem votos no segmento em que são conhecidos (local de trabalho, região da cidade, igreja e assim vai). Ratinho não possui vínculo com Londrina. Apesar de bem votado na cidade, olha muito mais para outras regiões. A relação com o atual prefeito também não é das melhores. Poderíamos classificar como uma relação institucional. Dificilmente ele aportaria na cidade para bancar uma candidatura de oposição. A candidatura de [deputado estadual] Tiago Amaral, que seria a opção do governador, também não decolou. Uma última tentativa poderia ocorrer se Felipe Barros fosse lançado candidato de última hora em uma aliança Bolsonaro /Ratinho. O problema é que o deputado está ausente de Londrina desde o início do mandato e longe das questões locais.
Lula seria um bom cabo eleitoral?
Não acredito que Lula faria muita diferença na eleição municipal. Quem é de direita não mudaria seu voto em decorrência de uma manifestação pública, pontual, em favor de um candidato local. E se o eleitor for de esquerda, a fala já seria para convertidos.