Em uma coletiva de imprensa concedida à mídia brasileira, realizada nesta terça (14), Andriy Yermak, chefe do Gabinete do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, não poupou críticas ao governo brasileiro, especialmente após o anúncio de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidaria Vladimir Putin para a próxima cúpula do BRICS. O foco da coletiva foi à força-tarefa ucraniana Bring Kids Back (Traga as Crianças de Volta), que visa repatriar as crianças ucranianas sequestradas pela Rússia durante a invasão. Yermak destacou a urgência de se colocar uma pressão internacional sobre Moscou, ao mesmo tempo em que expressou desapontamento pela postura do governo brasileiro frente aos crimes de guerra cometidos por Putin e seus aliados.
A força-tarefa Bring Kids Back foi lançada pelo governo ucraniano para resgatar as milhares de crianças ucranianas sequestradas e levadas à Rússia ou a territórios ocupados, onde muitas estão sendo submetidas a um processo de “russificação”. Yermak frisou que este ato de deportação forçada não é apenas uma violação dos direitos humanos, mas uma tentativa direta de destruir o futuro da nação ucraniana. “A Rússia não apenas invade nosso território, mas tenta destruir o futuro de nossa nação, sequestrando nossas crianças“, afirmou o chefe de gabinete.
O número é alarmante: cerca de 20 mil crianças foram levadas pela Rússia, muitas delas tendo suas identidades alteradas e sendo forçadas a viver sob o regime de Putin. Para Yermak, essa é uma das formas mais cruéis de agressão, e a comunidade internacional precisa agir rapidamente para garantir o retorno das vítimas desse crime de guerra.
O projeto de repatriação, que visa trazer essas crianças de volta à Ucrânia, conta com a colaboração de países aliados e organizações internacionais, que ajudam na identificação e resgates desses menores, no entanto, o processo de localização muitas vezes é dificultado pela questão de, muitas vítimas têm suas identidades alteradas durante o processo de adoção por famílias russas.
O convite feito pelo Brasil à Putin, em meio à acusações graves de crimes contra a humanidade, incluindo a deportação forçada de crianças, foi um dos principais pontos de discussão de Yermak. Para ele, ao convidar um líder procurado pela Corte Penal Internacional (CPI) por crimes de guerra, o governo brasileiro envia uma mensagem errada ao mundo. “Como pode um líder de um país democrático como o Brasil convidar um homem que é procurado por crimes contra a humanidade? Isso ignora as vítimas da agressão russa e os direitos das crianças ucranianas“, declarou, deixando claro que a Ucrânia não pode aceitar essa postura passiva diante da realidade imposta pela Rússia.
Yermak lamentou que a importância do Brasil, uma nação com influência geopolítica significativa, esteja sendo minimizada ao se alinhar com a Rússia em um momento tão delicado. A crítica ao convite de Putin também se estendeu à ausência do presidente Zelensky em eventos internacionais importantes, como o G20, realizado no Rio de Janeiro em 2023.
“A Ucrânia celebra a decisão do Brasil de barrar Putin do G20, mas ao mesmo tempo, a ausência do nosso presidente foi uma falha diplomática”, disse Yermak.
E, após questionado sobre as movimentações políticas americanas, expressou sua expectativa de que, com a posse de Trump como presidente novamente, a situação possa evoluir de maneira favorável para a Ucrânia, especialmente no que diz respeito ao fim do conflito e à busca por uma paz justa.
Durante a coletiva, o político não apenas abordou os desafios diplomáticos, mas também os obstáculos práticos da missão de repatriar as crianças sequestradas. Embora alguns resgates tenham sido realizados, o processo enfrenta dificuldades imensas devido à resistência da Rússia e à complexidade de acessar as regiões ocupadas. “Estamos trabalhando incansavelmente para trazer cada criança de volta, e contamos com o apoio de nossos parceiros internacionais para pressionar por sua repatriação. Não descansaremos até que todas as nossas crianças estejam em segurança“, afirmou o chefe de gabinete.
A Ucrânia tem buscado auxílio de organizações internacionais, como a ONU e a Cruz Vermelha, para monitorar e facilitar o retorno das crianças, que muitas vezes são usadas para fins de propaganda e assimilação forçada pelo regime russo. Yermak enfatizou que a repatriação das crianças deve ser uma prioridade global, e pediu que o Brasil, devido à sua importância diplomática, se junte aos esforços para pressionar a Rússia a permitir o retorno dessas crianças.