Lixo: Aprovado na ALEP, proposta beneficia empresa de filhos de deputados

Assembleia derrubou veto do governador projeto que autoriza importação do lixo de outros estados ao Paraná. Filhos de deputados são sócios de empresas do setor.

Por Derick Fernandes Deixe um comentário 7 min de leitura
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Deputados Ademar Traiano e Plauto Miró na Assembleia LegislativaDivulgação

A Assembleia Legislativa aprovou um projeto de lei que autoriza o Paraná a receber lixo de outros estados. A proposta polêmica revela o que pode ser uma articulação para favorecer empresas do setor, que tem entre sócios os filhos do presidente da Assembleia, Ademar Traiano, e do deputado Plauto Miró, ambos da base do governo Ratinho.

O texto avançou no começo da semana. A própria base aliada do governo derrubou o veto de Ratinho Junior para passar o projeto de autoria do deputado Tião Medeiros. Na prática, a lei cria nova regras para aterros sanitários e tratamento de resíduos.

Ratinho havia vetado o trecho da lei que permite que o Paraná passe a receber lixo vindo de outros estados.

Só que por 29 votos a 13, os deputados derrubaram os vetos e colocaram o governo no canto da vergonha, mostrando que – sobre os interesses dos parlamentares, o governador não tem nenhum controle. A derrubada do veto também é simbólica, porque até agora desde o início da gestão, 99% dos vetos de Ratinho foram respeitados pela ALEP.

SINDSAUDE com um governo
Governador Ratinho Júnior

Entre os que aprovaram o recebimento de lixo de outros estados, está o ex-secretário de Desenvolvimento Sustentável de Ratinho Junior, deputado Márcio Nunes (PSD), que se afastou do cargo para concorrer as eleições deste ano.

Ademar Traiano, por ocupar o cargo de presidente da assembleia, não votou a proposta. Mas do centro da mesa, ele fez algo que não foi nada comum em seu mandato: pedir para que os deputados votassem “não” e derrubassem o veto do governador.

“Esta presidência também faz um apelo pelo voto ‘não’ [ao veto]”

Ademar Traiano, presidente da ALEP

A maioria dos votos pela derrubada do veto veio justamente da base de apoio a Ratinho Junior e doze deputados decidiram não votar.

EMPRESA LIGADA À COLETA

O presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano, tem na família uma empresa ligada à coleta, transporte e tratamento de lixo.

E é o filho do deputado, Ademar Luiz Traiano Junior, que representa legalmente a empresa MTX Ambiental LTDA. A companhia ainda tem como sócia a Pegassus Administrações e Participações LTDA, que consta registrada no nome de três filhos de Traiano: Gabriela e Vinícius, além do já citado Ademar Junior.

Curiosamente, na sociedade com a MTX, também aparece a empresa Surubim Participações LTDA, que são administradas pelos filhos de outro deputado: Plauto Miró, do União Brasil. Plauto também integra a base governista, e votou pela derrubada do veto;

Foto: Arquivo

Plauto Miró Neto é administrador da empresa Surubim. Conrado Miró Guimarães aparece como outro sócio, e a filha menor de idade tem como representante o pai.

Na página da internet da MTX, dos filhos de Plauto e Traiano, as atividades são descritas como: solução em gerenciamento, destinação e tratamento de resíduos. Ou seja, a empresa coleta e trata o lixo doméstico e o produzido por indústrias.

CONTRATOS COM PREFEITURAS

Em um levantamento feito junto a prefeituras por meio do Portal da Transparência, também fica evidenciado que a MTX já teve 39 contratos com 14 municípios desde 2014. No total, os contratos renderam mais de R$ 9 milhões à companhia.

Ademar Traiano disse em nota que não tem relação comercial com as empresas que atuam no setor de resíduos sólidos, e que, como presidente da Assembleia, não vota e nem é autor do projeto que foi a plenário.

A reportagem também tentou contato com Plauto Miró e os outros 28 deputados que votaram pela derrubada do veto, buscando explicações do motivo qual o levaram a tomar a decisão, e até o momento não houve resposta.

O deputado Plauto Miró disse à RPC que votou seguindo a orientação do líder do governo, porém Marcel Micheleto (PSD), líder do governador na ALEP, se manifestou em plenário antes da votação e fez um apelo para que o veto não fosse derrubado, mas liberou a bancada para votar como quisesse. Apesar do apelo ele não foi seguido pelos demais parlamentares.

Miró não comentou a participação dos filhos na empresa que pode ser beneficiada pela lei, e salientou ainda não ser o autor do projeto.

INDEPENDÊNCIA DOS PODERES

O governo, por sua vez, se posicionou dizendo que Ratinho Junior respeita a independência dos Poderes, e que entende que divergências da base são naturais ao processo democrático.

Já a Assembleia Legislativa disse em tom crítico à reportagem veiculada pela RPC TV, afiliada da TV Globo, que o PL não libera de forma indistinta a importação de lixo de outros estados, e que essa movimentação depende do aval de órgãos ambientais.

“A legislação moderniza os parâmetros ao permitir ao Estado a gestão dos resíduos sólidos de uma maneira coordenada […] Repudia-se, portanto, qualquer alegação de que a proposta aprovada atenda interesses particulares em detrimento do interesse público”, diz trecho.

Conforme a Assembleia, a lei “busca entender o processo, da geração à destinação final, levando em conta cada etapa e detalhe da cadeia”.

As empresas MTX e Surubim não se posicionaram sobre o tema.

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Jornalista
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Derick Fernandes é jornalista profissional (MTB 10968/PR) e editor-chefe do Portal i24.
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