O que se sabe sobre o desaparecimento de jornalista inglês e de indigenista

BBC Brasil
Por BBC Brasil 1 comentário 8 min de leitura
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Bruno Araújo (esq) e Dom Phillips estão desaparecidos - Foto: Arquivo pessoal

O jornalista britânico Dom Phillips e o servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio) Bruno Araújo Pereira desapareceram quando se deslocavam de barco pelo rio Itaquaí após uma visita à Terra Indígena do Vale do Javari (Amazonas), território que tem sofrido com invasões de caçadores, pescadores e madeireiros.

O sumiço da dupla foi divulgado nesta segunda-feira (06/06) em uma nota assinada pela principal associação indígena do Vale do Javari (UNIJAVA) e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI).

A Polícia Federal, a Funai, o Ministério Público Federal e a Marinha estão envolvidos nas buscas.

Phillips e Pereira desapareceram após fazerem uma pausa numa comunidade ribeirinha, quando estavam fora da terra indígena e voltavam para a cidade de Atalaia do Norte, a principal da região, no oeste do Amazonas.

A UNIJAVA e o OPI dizem que a equipe recebeu “ameaças em campo” durante a visita.

Em nota, os órgãos dizem que Pereira e Phillips viajaram em 3 de junho até um posto de vigilância indígena próximo a uma localidade chamada Lago do Jaburu, “para que o jornalista visitasse o local e fizesse algumas entrevistas com os indígenas”.

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No dia 5, segundo a nota, os dois deveriam voltar para Atalaia do Norte, mas antes fizeram uma parada previamente agendada na comunidade ribeirinha São Rafael para visitar um líder comunitário conhecido como “Churrasco”.

O objetivo da parada era “consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território bastante afetado pelas intensas invasões”.

Segundo a nota, a dupla chegou à comunidade São Rafael por volta das 6h. Como não encontraram o líder, conversaram com sua esposa e partiram rumo a Atalaia do Norte.

A viagem normalmente dura cerca de duas horas. “Assim, deveriam ter chegado por volta de 8h/9h da manhã na cidade, o que não ocorreu”, dizem a Unijava e o OPI.

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Dom Phillips – Foto: Arquivo

Os órgãos dizem então que, às 14h, mandaram em busca da dupla uma equipe “formada por indígenas extremamente conhecedores da região”.

A equipe teria percorrido inclusive os “furos” do rio Itaquaí, “mas nenhum vestígio foi encontrado”.

“A última informação de avistamento deles é da comunidade São Gabriel – que fica abaixo da São Rafael – com relatos de que avistaram o barco passando em direção a Atalaia do Norte”, diz a nota.

Às 16h, dizem os órgãos, “outra equipe de busca saiu de Tabatinga, em uma embarcação maior, retornando ao mesmo local, mas novamente nenhum vestígio foi localizado”.

A nota diz que a ameaça recebida pela equipe na última semana “não foi a primeira”.

Segundo as entidades, várias outras ameaças “já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Unijava, além de outros relatos já oficializados para a Policia Federal, ao Ministério Público Federal em Tabatinga, ao Conselho nacional de Direitos Humanos e ao Indigenous Peoples Rights International”.

O cunhado de Phillips publicou uma mensagem no Twitter em que a família “implora às autoridades brasileiras que enviem a guarda nacional, a polícia federal e todos os poderes à disposição” para encontrar o jornalista.

“Ele ama o Brasil e dedicou sua carreira à cobertura sobre a floresta Amazônica. Entendemos que o tempo é um fato crucial, então encontrem nosso querido Dom o mais rápido possível”, escreveu Paul Sherwood, cunhado de Phillips.

BUSCAS

Em nota à BBC a Funai afirma que “acompanha o caso, está em contato com as forças de segurança que atuam na região e colabora com as buscas”.

— Cumpre esclarecer que, embora o indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira integre o quadro de servidores da Funai, ele não estava na região em missão institucional, dado que se encontra de licença para tratar de interesses particulares – acrescenta a entidade.

A Polícia Federal disse em comunicado que está trabalhando no caso. Informou ainda que duas testemunhas, cujos nomes não foram divulgados, foram ouvidas nesta segunda.

O Ministério Público Federal diz ter acionado a Polícia Federal, a Força Nacional, a Polícia Civil, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e a Marinha do Brasil. “Esta última já confirmou que conduzirá as atividades de busca na região, por meio do Comando de Operações Navais”, diz o órgão em nota.

“O MPF seguirá intermediando as ações de buscas e mobilizando as forças para assegurar a atuação integrada e articulada das autoridades, visando solucionar o caso o mais rápido possível.”

O Comando Militar na Amazônia afirmou que iniciou uma operação de busca na região do município de Atalaia do Norte com uma equipe de combatentes de selva.

Segundo o jornal O Globo, o governo está montando uma força-tarefa com agentes da Polícia Federal, oficiais da Marinha, do Exército, bombeiros, servidores da Funai, da Defesa Civil e da Força Nacional de Segurança em Tabatinga, no Amazonas. O governo federal no entanto ainda não confirmou oficialmente a informação.

Mas o governador do Estado do Amazonas, Wilson Lima, disse que determinou o envio de reforço policial especializado para a região de Atalaia do Norte para ajudar nas buscas.

O jornal The Guardian disse que “está muito preocupado” e buscando informações sobre o caso.

Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e com autoridades locais e nacionais para tentar esclarecer os fatos assim que possível.

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Indigenista também desapareceu – Foto: Arquivo

SERVIDOR EXPERIENTE

Segundo a nota conjunta do OPI e da Unijava, “Bruno Pereira é pessoa experiente e profundo conhecedor da região, pois foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por anos”. As entidades afirmam que a dupla viajava com uma embarcação nova, com 70 litros de gasolina, “o suficiente para a viagem”.

Pereira é um dos servidores da Funai com mais conhecimento sobre indígenas isolados e de recente contato.

Segundo o jornal The Guardian, Phillips “está trabalhando num livro sobre o meio ambiente com apoio da Alicia Patterson Foundation”.

O jornal acrescenta que Phillips mora em Salvador e faz reportagens sobre o Brasil há mais de 15 anos, colaborando com veículos como o ; próprio The Guardian, o Washington Post, o New York Times e o Financial Times.

Jonathan Watts, editor de meio ambiente do Guardian, escreveu no Twitter que Dom Phillips, é um “jornalista excelente” e “grande amigo”. Ele cobrou autoridades brasileiras a agir para solucionar o caso.

O Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI) diz ter contatado a Frente Parlamentar Indígena, que também teria se comprometido a cooperar com as investigações.

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