LONDRINA – Uma empresa que atua na venda de planos de assistência familiar em Londrina é acusada de estelionato por clientes que pagaram pelos planos, e não tiveram assistência quando precisaram da empresa. Segundo as informações, outras dezenas de clientes continuam pagando pelo serviço, sem que saibam que estão sendo lesados pela empresa.
A Londripax foi aberta em 2014 pelo empresário Josimar Antônio de Souza, também proprietário da clínica Odonto Sempre, e vendida posteriormente para o proprietário do Buffet Pedra Branca, pastor José Carlos Barbosa Almeida – que por sua vez, colocou o contrato social em nome de Cristiano Ferraz de Campos (genro) e da filha Sarah Regina Roza de Almeida Campos.
Procurado pela reportagem, Josimar alega que teve problemas na transação, e que José Carlos chegou a utilizar cheques sem fundos da esposa Ivonete Aparecida de Roza Almeida para fazer o pagamento do negócio. Além disso, ele ainda diz que também processará o pastor pelo crime de estelionato, pela utilização de cheques sem fundos. Ao ser questionado sobre sua participação na Londripax, Josimar disse que não era mais responsável pela movimentação financeira e nem pela administração da empresa.
No entanto, os valores que são pagos a título de mensalidade dos planos de assistência familiar, são depositados em uma conta em nome de Josimar. Sobre isso, Josimar diz que passou os dados bancários da conta, para que ela fosse movimentada pelos novos proprietários. A informação foi confirmada pelo advogado de Josimar, Jackson Aurélio Brojato Martins, em conversa com o 24H por telefone, mas ao contrário de Josimar, ele diz que não houve uma procuração reconhecida em cartório que delegasse a movimentação financeira a José Carlos, mas sim que esse entendimento foi ‘oral’.
Segundo as informações, os valores que caíam para a Londripax eram transferidos para uma conta bancária em nome de Ivonete. Josimar alega ainda que, quando vendeu a empresa, deixou cerca de R$ 4 mil em caixa.
CASO
Na última semana, várias pessoas procuraram a 10ª Subdivisão Policial de Londrina para registrar boletins de ocorrências contra a Londripax. As acusações citam que a empresa não cumpriu com o dispositivo do contrato, isso é, não prestou assistência às pessoas que estavam inclusas no plano.
Uma mulher diz que teve que fazer um débito de R$ 7 mil para pagar o velório e sepultamento do pai, falecido na semana passada. Segundo ela, cerca de 10 dias antes foram pagas duas parcelas do plano na sede da empresa, até então localizada na Avenida Arcebispo Dom Geraldo Fernandes em um imóvel alugado; O proprietário do imóvel foi contatado e disse que também não consegue conversar com os locatários, e que está solicitando aos seus advogados o ingresso de uma ação de despejo por débitos.
No imóvel, ficava uma funcionária de José Carlos que recebia valores de quem iria até o local fazer o pagamento. As parcelas sempre eram pagas ‘in loco’ ou através de um motoboy que passava para receber o valor na casa dos clientes da Londripax.
Depois do último pagamento, e com o falecimento do pai, a vítima conta que nunca mais conseguiu nem por telefone, e nem pessoalmente, contato com algum responsável pela empresa. Estimam-se que pelo menos 50 pessoas ainda paguem as prestações do plano de assistência familiar ‘fantasma’.
ESTELIONATO
Dono do Buffet Pedra Branca, José Carlos é acusado por Josimar de praticar estelionato e lesá-lo na transação de compra da Londripax. Josimar, porém, em 2006 já respondeu pelo mesmo crime. A época, ele foi acusado de se passar por advogado, além de crimes como ameaça e lesão corporal.
“Durante minha gestão, a empresa esteve 100% legal. Registrada na Administração dos Cemitérios e Serviços Funerários de Londrina (Acesf) sempre com os pagamentos em dia.” salientou à reportagem.
Ele ainda garante que não tem ligação com esse novo fato, e que irá se resguardar reunindo provas com advogados, na hipótese de surgir alguma acusação que venha afetá-lo. A investigação jornalística ainda aponta que Josimar alterou os contratos sociais da empresa em junho deste ano, a mesma época em que diz ter vendido a Londripax para José Carlos. Segundo ele, nesse tempo a empresa estava ‘saudável’ e atendia todos os clientes.
“Eu fiz vários velórios e sepultamentos. Essas informações são novas pra mim e eu não sabia o que estava se passando. Tenho os comprovantes dos trabalhos executados pela Londripax, enquanto sob meu gerenciamento. Agora quem responde são eles”. disse.
OUTRO LADO
Apesar de ser o responsável pela compra, a Londripax não está em nome de José Carlos. O CNPJ figura como sendo de responsabilidade da filha dele, Sarah, e do genro, Cristiano.
Cristiano foi contatado e se disse surpreso com as informações. De acordo com ele, momentos antes do contato do 24H, José Carlos havia entrado em contato por telefone ‘desesperado’ com o trabalho jornalístico que vinha sendo levantado a respeito da Londripax. Ele salientou que irá esperar citação judicial para esclarecer os fatos envolvendo a empresa.
José Carlos, por sua vez, foi contatado, porém não foi localizado. Ele se pronunciou através da advogada, Josiane, que se limitou a dizer apenas que a família não irá se posicionar no momento. Ela diz também que “nesta segunda-feira (17), os familiares de algumas pessoas foram contatados para que fossem feitos o ressarcimento dos valores pagos à Londripax”.
Até esta quinta-feira (20), porém, o 24H apurou que nenhum cliente foi contatado pela Londripax para receber valores pagos indevidamente.
Não foi explicado também, o porque dos clientes não terem sido informados da ‘interrupção’ da empresa. Segundo Josiane, a Londripax estaria passando por problemas financeiros, mas, ela não soube dizer como a empresa continuou recebendo os pagamentos sem comunicar seu fechamento.
A filha de José Carlos, não foi localizada para apresentar sua versão do caso.
CADEADO
A reportagem também foi conferir os endereços de atuação da Londripax. Segundo consta, somente em 2018 a empresa mudou duas vezes de endereço, passando da Rua Maranhão, no centro, para a Rua Souza Naves, e na sequência para a Leste-Oeste.
Em todos os locais, portas fechadas. No último endereço, o mais atualizado da Londripax, o portão e a porta estavam trancados com um cadeado. Nenhum número de telefone fornecido para contato está funcionando e os funcionários também não foram mais vistos.
AÇÃO DO MP
O caso está sendo apurado pela Polícia Civil, através da delegacia de estelionatos, que deve acionar o Ministério Público do Paraná para o ingresso de uma ação contra a Londripax e seus proprietários.
O delegado responsável foi contatado pelo 24H, mas não foi localizado para comentar o caso.