O jornalista brasileiro Léo Veras sofreu um atentado a tiros e morreu no hospital de Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia vizinha a sul-mato-grossense Ponta Porã, na noite desta quarta feira (12).
Léo jantava com a família no quintal de casa quando três homens encapuzados chegaram ao local e atiraram contra ele. O jornalista tentou fugir mais foi atingido. Ele foi socorrido ao hospital da cidade onde não resistiu aos ferimentos e veio a óbito.
Os três pistoleiros encapuzados estavam em um Jeep Grand Cherokee. Nos últimos dias, Léo Veras concedeu entrevista à emissora Record no programa Domingo Espetacular, em uma matéria especial sobre respeito do tráfico de drogas e violência na fronteira.
Léo Veras já tinha relatado que recebia ameaças de morte. A ABI (Associação Brasileira de Imprensa), inclusive já fez denúncia sobre as ameaças sofridas pelo jornalista. Em 2013, a Associação relatou o trabalho de Léo e da imprensa nesta região da fronteira, marcada principalmente pelas execuções motivadas pelo narcotráfico.
“Vou continuar fazendo o meu trabalho como eu faço todos os dias. Não existe ameaça que me impossibilite. Não vou me trancar em casa por causa disso”, disse na ocasião.
“ESPERO QUE NÃO SEJA COM VIOLÊNCIA”
Em outro vídeo divulgado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Léo Veras faz uma brincadeira e pede para que sua morte “não seja tão violenta”. Nas imagens ele reforça que na fronteira, se um pistoleiro quer te matar, ele dispara muitos tiros “que seja apenas com um tiro, não com muitos”, disse.
Léo Veras foi velado em Pedro Juan Cabalero, mas seu sepultamento aconteceu em Ponta Porã, na tarde desta quinta-feira (13).
RECADO À IMPRENSA
O assassinato de Léo Veras acontece exatamente oito anos depois que outro jornalista foi executado por pistoleiros. Paulo Rocaro foi morto em 12 de fevereiro de 2012, também em Ponta Porã.
À época, pouco mais de um ano após o crime, a polícia divulgou a informação de que um empresário teria mandado assassinar o comunicador por motivos políticos. O problema teria sido uma disputa interna dentro do Partido dos Trabalhadores.
Paulo Rocaro e Cláudio Rodrigues teriam tido uma discussão e o jornalista afirmado que realizaria matérias com o intuito de expor a ficha criminal de ‘Claudinho’ e de como o crime organizado estaria trabalhando para se infiltrar no ramo da política na fronteira. Por fim, Paulo foi baleado cinco vezes enquanto dirigia seu carro na cidade.
Já na morte de Léo Veras, o jornalista foi amordaçado depois de morto com um pano branco, que ficou sujo de sangue.
A Abraji divulgou uma nota condenando o crime. “Não vamos aceitar que esta execução fique impune”.
LEIA A NOTA:
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) lamenta a morte do jornalista brasileiro Lourenço Veras, conhecido como Léo Veras, assassinado com 12 tiros na cidade paraguaia Pedro Juan Caballero na noite de quarta-feira (12.02.2020). Veras respondia pelo site de notícias Porã News, que noticia a disputa do narcotráfico na fronteira entre Brasil e Paraguai, e já havia recebido ameaças de morte. A Abraji também cobra agilidade das autoridades no esclarecimentos das circunstâncias do crime. Todo assassinato de jornalista é uma tentativa de calar o mensageiro, comprometendo a liberdade de imprensa.
Léo Veras trabalhava havia mais de 15 anos na região de Pedro Juan Caballero, que faz fronteira com a cidade sul-mato-grossense de Ponta Porã, uma das principais portas de entrada de drogas e armas no Brasil. Em 19.01.2020, a cidade paraguaia foi palco da fuga de 75 presos, a maioria ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital), da penitenciária regional. Fontes próximas a Léo Veras relataram para a Abraji que o jornalista estava receoso com a situação e possíveis desdobramentos.
Em jan.2020, reportagem do Domingo Espetacular, da Rede Record, entrevistou o jornalista, que afirmou sofrer ameaças por mensagens de texto no celular, que o mandavam “fechar a boca”. Em 2017, Léo Veras falou com o Programa Tim Lopes, projeto da Abraji, sobre o assassinato dos colegas jornalistas Paulo Rocaro e Luiz Henrique “Tulu” em Ponta Porã. Na época, Veras relatou que ele e a esposa quase não participavam de eventos sociais públicos, por medo da violência: “Eu sempre peço que não seja tão violenta a minha morte, com tantos disparos de fuzil”.
Com informações MidiaMax