Um movimento iniciado no Twitter levou o nome de Londrina ao quarto lugar nacional entre os assuntos mais comentados na noite desta terça-feira (27). Jovens meninas anônimas usaram o perfil de uma conta para desabafar sobre casos sofridos de violência sexual ou abusos praticados por meninos da cidade.
A conta “Exposed Londrina” recebe por meio de mensagem direta (DM) os depoimentos das jovens que contam como foram violentadas ou submetidas a situações de constrangimento ou abusivas em festas, encontros ou até mesmo durante relacionamentos.
O assunto com a hashtag #ExposedLondrina chegou a quarto lugar entre os mais comentados. Mais de três mil tweets chamavam a atenção para o tema, que muitas vezes não é discutido dentro de casa, por medo ou receio da reação dos familiares e amigos.
!!!!!!!! não vou passar pano pra porra nenhuma não, nós por nós #ExposedLondrina pic.twitter.com/CuE30zOCmg
— pamela (@pamcntlpp) May 28, 2020
Em alguns dos depoimentos, as meninas contavam que os meninos se aproveitavam delas em festas ou situações de vulnerabilidade. Em um dos casos a menina relata que foi abusada enquanto estava embriagada em uma festa. Outras relatavam situações que ocorreram em boates ou casas noturnas.
O que mais chama atenção diante disso é a idade das vítimas, e muitas vezes, dos agressores – São adolescentes, ou jovens adultos. O tema revela um tabu – a violência sexual praticada por jovens, ou menores de idade. As vítimas desse tipo de violência em sua maioria, não relatam os abusos e passam parte da vida carregando a experiência traumática como um segredo que elas gostariam de revelar, mas se sentem inseguras.
Nossa gente oq eu to tremendo de ódio. É foda ter que conviver dia após dia carregando todo um fardo só por ser mulher, é foda saber que ngm te escuta nem quando vc grita, é foda ver que existem até mulheres que jogam a culpa nas amigas #ExposedLondrina pic.twitter.com/gbuTQMmfo1
— sifudê (@camis_liminha) May 28, 2020
A reportagem do 24Horas conversou com uma estudante, criadora do perfil @londrinaexposed. Ao ser questionada o que a motivou a criação da conta, ela explica que muitas vezes, situações de abuso ou assédio sexual são praticados por pessoas de convívio próximo. “Praticamente todas as meninas, de todas as idades, já sofreram algum abuso”.
Ela também explica que a iniciativa pretende ajudar as meninas (com apoio moral e psicológico) e alertar sobre o assunto, que ela descreve estar presente em nosso dia-dia, sem a percepção da sociedade do que está acontecendo.
“Esse assunto precisa ser debatido”
A jovem também defende a ampliação do debate sobre o assunto, tanto em casa quanto na escola. A violência sexual pode também ser caracterizada por outros subtipos. O assédio moral, psicológico ou assédio sexual são tipificados como crime pelo Código Penal Brasileiro.
As redes sociais tem servido como um refúgio para essas meninas expressar o sentimento de determinação a discutir o tema, mas também de impotência diante do que já vivenciaram até aqui.
Ela também classifica o assunto como tabu, mas defende uma mudança de pensamento em relação a isso. “Nenhuma menina merece sofrer com essa culpa. Por isso o movimento foi criado, para mostrar que estamos juntas e que somos mais fortes que isso“.
A reportagem perguntou a estudante se ela em algum momento já passou por alguma situação parecida. “Passei várias situações como essa. São pouquíssimas as vezes que me lembre de ter saído e não ter sido assediada verbalmente”, conta.
vi isso no ig e achei necessário compartilhar aqui também, isso é MUITO importante!! e se vc se identifica com qualquer coisa desse tipo, fique à vontade pra me chamar na dm pra conversarmos.
relacionamento abusivo não é só agressão física.#MeToo #exposedlondrina pic.twitter.com/HPnIMSAoE8
— pamela (@pamcntlpp) May 27, 2020
JUSTIÇA E DIREITOS
O “Exposed Londrina” além de tocar no assunto sobre violência sexual, assédio moral e abusos, também tem outro foco: Atrair a atenção das autoridades na busca por justiça e por direitos. Quando se fala em direitos, é o rigor da lei para punir os casos denunciados de assédio moral, que muitas vezes são esquecidos pela justiça.
Para elas, a punição é um exemplo para evitar novas agressões nesse sentido.
MEDO SE TRANSFORMOU EM CORAGEM
A iniciativa de estudante foi tomada em conjunto com suas amigas. Ela conta que sentiu medo de receber processos por causa da criação da conta. Mas a proporção que o movimento tomou em poucas horas, rendeu muitos apoios, até mesmo de advogados que se sensibilizaram com os relatos das meninas.
“Eu criei a conta, mas o movimento com a hashtag fui eu e mais algumas amigas que tiveram a mesma iniciativa. Não imaginávamos que iria tomar uma proporção tão grande“, conta, entusiasmada, com a abertura do diálogo sobre esse tema.