Em uma conferência transmitida publicamente com o presidente Jair Bolsonaro, padres e leigos conversadores que detém boa parte das emissoras católicas de rádio e televisão ofereceram “mídia positiva para ações do governo” em troca de apoio com verbas publicitárias e outorgas para expandir suas redes. A informação foi publicada na edição deste sábado (06) no jornal Estado de S.Paulo.
Entre os participantes do grupo, dois eram paranaenses: o padre Reginaldo Manzotti, da TV Evangelizar, e o deputado federal Diego Garcia (Pode-PR). Além deles, também participou o padre Welinton Silva, da TV Pai Eterno, que comprou parte da programação da TVCI, canal com concessão em Paranaguá.
Welinton foi categórico:
“A nossa realidade é muito difícil e desafiante, porque trabalhamos com pequenas doações, com baixa comercialização. Dentro dessa dificuldade, estamos precisando mesmo de um apoio maior por parte do governo para que possamos continuar comunicando a boa notícia, levando ao conhecimento da população católica, ampla maioria desse país, aquilo de bom que o governo pode estar realizando e fazendo pelo nosso povo. Precisamos ter mais atenção para que esses microfones não sejam desligados, para que essas câmeras não se fechem.”
O padre e cantor Reginaldo Manzotti, da Associação Evangelizar é Preciso, com rádios e TV próprias, cobrou agilidade e ampliação das outorgas. “Nós somos uma potência, queremos estar nos lares e ajudar a construir esse Brasil. E, mais do que nunca, o senhor sabe o peso que isso tem, quando se tem uma mídia negativa. E nós queremos estar juntos”, disse.
O empresário João Monteiro de Barros Neto, da Rede Vida, afirmou que “Bolsonaro é uma grande esperança”. Argumentou, ainda, que veículos católicos precisam ser “verdadeiramente prestigiados”. Barros Neto pediu não apenas mais entrevistas, como também a participação do presidente em eventos promovidos por católicos. “A Rede Vida é a quarta maior rede de TV digital do País, mas, para que possamos crescer, precisamos ter mais investimentos”, resumiu ele.
Emissoras de TV ligadas a grupos religiosos receberam, no ano passado, R$ 4,6 milhões em pagamentos da Secom por veiculação de comerciais institucionais e de utilidade pública.
Os católicos ficaram com R$ 2,1 milhões e os protestantes, com R$ 2,2 milhões. Em 2020, emissoras de TV católicas receberam, até agora, R$ 160 mil, enquanto as evangélicas, R$ 179 mil, de acordo com planilhas da Secom.
O encontro virtual foi intermediado pelo líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), com a Frente Parlamentar Católica.
á o presidente da bancada católica, deputado Francisco Jr. (PSD-GO), pediu que Bolsonaro promova, mensalmente, um café da manhã de conversa e oração com eles.
“Estamos um pouco enciumados. Nós somos a maioria e a maioria é que ganha eleição sempre”, alegou Francisco Jr., para quem as pautas da bancada “têm a cara de Jair Bolsonaro.” O deputado Diego Garcia (Podemos-PR) afirmou, por sua vez, que a bancada quer fortalecer o governo. “O senhor pode contar 100% nas matérias pertinentes em apoio ao governo”, disse Garcia a Bolsonaro.
Bolsonaro prometeu tratar pessoalmente do assunto.
NOTA DE REPÚDIO
Por meio de nota, a Frente Parlamentar Católica disse que o jornal Estado de S.Paulo foi tendencioso e que a conferência não tratou de verbas públicas ou apoio político ao governo.
Leia na íntegra:
A FRENTE PARLAMENTAR CATÓLICA DO CONGRESSO NACIONAL vem, por meio desta nota,
manifestar seu REPÚDIO pela forma tendenciosa estampada na matéria de capa do Jornal o Estado de
São Paulo – edição de 06/06/2020, na qual distorce os temas tratados em reunião com o Presidente da
República no dia 21/05/2020.
Chama a atenção o fato de a matéria ter sido postada tanto tempo depois do referido encontro.
Reunião esta, que foi e é pública, vez que, transmitida pelas redes sociais dos participantes, do Presidente da República e ainda pela TV BRASIL. Todos podem acessar o material e vericar o conteúdo da
reunião, de forma transparente.
Nesta reunião institucional todos os participantes puderam expor suas manifestações de forma
livre. Em nenhuma das colocações se condicionou verbas de publicidade a apoio ao governo, nem
mesmo apoio político pelos membros da FRENTE, até mesmo, porque, entre os membros da frente
parlamentar há políticos ligados a diferentes linhas ideológicas e partidárias.
Por fim, reitera que não há como faz crer a matéria, qualquer clima de animosidade entre a
FRENTE PARLAMENTAR CATÓLICA e a CNBB, vez que, mantemos com a mesma uma relação de diálogo
e respeito.