A lei da Cidade Limpa, implantada em 2010 pelo ex-prefeito de Londrina Barbosa Neto, teve seus prós e seus contras. Se por um lado a legislação ‘limpou’ a cidade do excesso das placas de propagandas, por outro, a lei afugentou investidores que não podiam explorar padrões visuais e encontravam dificuldades para divulgar seus empreendimentos.
Um impacto negativo por exemplo foi no Calçadão, que se tornou ‘monocromático’ sem os quiosques e cafés que até aquele ano eram um ‘point’ de rodas de conversa e encontros nos finais de tarde nas pausas do expediente.
O rigor da lei também fez com que Londrina perdesse seu ‘ar de cidade grande’ e impediu que a ‘famosa’ estátua da Havan chegasse em terras londrinenses. Relógios de rua foram retirados, e painéis iluminados com publicidade em prédios foram removidos – nem mesmo a famosa placa de ‘M’ do McDonald’s escapou.

Doze anos depois, e após várias mudanças na lei considerada defasada, Londrina volta a atrair os olhares de investidores de fora, que agora ganharam mais confiança em abrir empreendimentos na cidade. Parece bobagem, mas por incrível que pareça, a publicidade e os outdoors, no campo empresarial, são extremamente importantes para o sucesso de um negócio.
E em Londrina, se tornou quase que um crime contra a urbanidade colocar um mero letreiro iluminado, ou pintar sua fachada de forma mais chamativa. O resultado disso tudo foi uma grande cidade apagada. Nada além de prédios, mais prédios e poucos elementos urbanos que inspirem o sentimento de uma cidade pujante e comercialmente ativa.
Aliás, falar em cidade limpa e culpar apenas os empresários pela sua ‘poluição visual’ caiu em total descrédito. A prefeitura também tem uma boa parcela de culpa, já que não se vê em Londrina discussões relevantes sobre o tema. Cidade Limpa por exemplo, é enterrar a fiação elétrica pelo menos das áreas comerciais, para melhorar o aspecto visual – ou ainda dar um jeito nas fezes dos pombos que ‘quase’ historicamente infestam o Centro.

Mas pelo menos quando falamos em placas de publicidade, essa realidade começou a mudar e já rende alguns resultados positivos. Com a recente flexibilização da Lei da Cidade Limpa, Londrina voltou a receber os letreiros, e, com empolgação, empresários tocam projetos de revitalização de fachadas, enquanto outros arriscam a abertura de novas filiais.
A Avenida Saul Elkind, na Zona Norte, foi a primeira a ter as placas novamente. Dessa vez mais modernas e menos agressivas, já que a lei continua existindo, porém agora regulamentada e sem proibições mirabolantes como no começo da sua aplicação.
Londrina também vai voltar a ter o ‘M’ do McDonald’s e a Havan avalia a possibilidade de investir em uma nova megaloja na cidade, agora com a famosa estátua. No caso da rede de fastfood, quase que imediatamente à flexibilização da lei, o investidor da franquia deu início à reforma da unidade na Avenida Tiradentes, que andava um pouco apagada.

No Vivi Xavier, a recém inaugurada AutoZone ostenta um grande letreiro, que pode ser observado de vários pontos. Mais do que isso, a região tem experimenta a chegada de outros comércios, tal qual restaurantes, farmácias, hamburguerias e até uma praça de alimentação em contêiner.
Falar em urbanidade e não levar em conta os elementos que complementam o conjunto da cidade é um erro. Londrina se fez apenas parecer uma cidade antiquada, em que tudo era proibido e com uma mania higienista que só causou prejuízos ao próprio estilo de vida do londrinense, que não tinha nada de diferente para ver – ou se tinha, estava escondido, atrás de fachadas sem cor, apagadas e que passavam despercebidas. Agora não mais.
Apesar dos avanços lentos, os passos continuam sendo dados. A próxima empreitada é a volta dos relógios de rua e das bancas de jornal, os quais a ‘lei da cidade limpa’ enxergaram como uma poluição urbana bizarra que não era bem vinda aqui, enquanto outras grandes cidades brasileiras as tem como um mobiliário urbano importante para levar movimento às ruas e tornar a cidade mais interessante para as pessoas conhecerem.