Cracolândia: crianças e adultos se drogam em rua no Centro de Londrina

Sem nenhum pudor e invisíveis para a prefeitura, usuários de crack se aglomeram e passam o dia se drogando.

Derick Fernandes
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Rua Ouro Preto se tornou a cracolândia de LondrinaFoto: Derick Fernandes

Na esquina da Avenida Leste-Oeste com a Rua Ouro Preto, no Centro de Londrina, crianças e adultos viciados em crack perambulam dia e noite sem nenhum pudor. Bem embaixo do nariz das autoridades, e em um dos principais pontos de circulação da cidade, uma cracolândia está se formando, evidenciando um enorme problema social.

As abordagens da polícia são constantes, mas a degradação do espaço público e o número de pessoas que frequentam esse endereço está apenas a aumentar e o que está se fazendo se resume em apenas enxugar o gelo. São pessoas que caíram no mundo das drogas, e hoje protagonizam a cena lamentável, em uma cidade com pouquíssima assistência social.

O problema já é conhecido, mas pouco caso é feito dele. Mesmo a PM agindo para inibir o tráfico, por muitas vezes ele muda de local, mas a reunião dos usuários acontece sempre ali. Não se trata de uma situação que exige somente a atuação da polícia, mas sim de um problema crônico que coloca a cidade diante de um desafio muito maior. A drogadição é real e desnuda a face desse lado de Londrina – longe das Glebas, mais perto da periferia.

A reportagem do 24H News acompanhou momentos da rotina dos viciados na rua Ouro Preto. Um garoto de uns 13 anos se aproxima e pergunta se ele iria aparecer na TV. Respondo que não, e emendo questionando o porque dele estar ali. “Minha mãe e meu pai são tudo [sic] errado na vida. Não tem ninguém por mim“, diz com ar de lamentação.

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Rua Ouro Preto, no Centro de Londrina, se tornou um ponto de drogadição – Foto: Derick Fernandes

Aproveito o diálogo com o garoto para tentar descobrir como é a vida naquele estado. “As pessoas ajuda pra nós comer [sic]. A gente faz bico ou pede no sinal“, emenda o menino. Ele não se lembra quanto tempo está ali, e tampouco se recorda da última vez que foi à escola.

Enquanto conversava com o garoto, outras pessoas olham desconfiadas e tentam se esconder. O medo delas se justifica. Mesmo estando no Centro da cidade, o entorno daquele ponto é hostil e um tanto degradado. O ar é mais pesado e todos que passam, andam rápido ou fecham as janelas do carro. É uma forma de isolar-se desses que para muitos são considerados ‘sub-humanos’ ou no mais grosso dito popular – noiados.

Se nada for feito, é questão de tempo para que essa situação piore e mais pessoas passem a frequentar essa rua que se vocaciona para ser a cracolândia oficial de Londrina. Ali rola de tudo, desde tráfico à prostituição. Brigas também são constantes, fora o barulho na madrugada que tanto incomoda moradores das redondezas, que fartos desse descaso pensam em se mudar.

cracudos
Usuários se amontoam na calçada em um dia de calor

“É impossível. Morar aqui é ser abordado toda hora por pedintes ou andarilhos. E eles não querem dinheiro para comprar comida não. Querem dinheiro para comprar pedra”, esbraveja o morador de um imóvel mais pra baixo, na mesma rua, que prefere o anonimato.

A prefeitura nada faz. Ou sequer tenta fazer. É mais vantajoso fechar os olhos para o problema e varrer a sujeira pra baixo do tapete. Afinal, nossa Câmara Municipal também está mais preocupada com leis estúpidas, e alguns vereadores mais empenhados em falar de Bolsonaro ou de Lula, do que resolver os problemas que afligem Londrina de verdade.

Pra muitos, é mais fácil julgar os nóias, do que ajudá-los a sair daquela situação e ter um pingo de dignidade na cidade da qual eles também são filhos. Até quando?

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Jornalista
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Derick Fernandes é jornalista profissional (MTB 10968/PR) e editor-chefe do Portal i24.
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