Bolsonaro demite Milton Ribeiro em meio a escândalo de corrupção evolvendo pastores

Derick Fernandes
Por Derick Fernandes Deixe um comentário 4 min de leitura
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Foto: Alan Santos / PR

O Governo anunciou nesta segunda-feira (28) em uma edição extra no ‘Diário Oficial da União’, a saída do cargo de Milton Ribeiro, quarto ministro da Educação do presidente Jair Bolsonaro.

Pastor presbiteriano e professor, Milton Ribeiro estava no MEC desde julho do ano passado, e pediu exoneração depois de uma reunião com o presidente.

Segundo fontes do Palácio do Planalto, Bolsonaro já estava convencido a afastar Ribeiro depois que um escândalo de corrupção envolvendo pastores veio à tona.

Na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo revelou um áudio no qual Ribeiro diz repassar verbas do ministério para cidades indicadas por dois pastores, a pedido do presidente Jair Bolsonaro.

Os pastores a quem o ministro se referiu no áudio são Gilmar Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros da Assembleias de Deus no Brasil Cristo Para Todos (Conimadb), e Arilton Moura, ligado à igreja evangélica Assembleia de Deus.

Ambos não tinham cargo no governo, mas mesmo assim participavam de várias reuniões com autoridades e mantiveram encontros com Bolsonaro.

Milton Ribeiro negou o que disse no áudio, e afirmou que Bolsonaro “não pediu” favorecimento a pastores.

Na semana retrasada, o jornal “O Estado de S.Paulo” já havia publicado reportagem informando sobre a existência de um “gabinete paralelo” integrado por pastores no Ministério da Educação, com controle da agência e da verba da pasta.

A reportagem afirmava que Gilmar Santos e Arilton Moura têm trânsito livre no ministério e atuavam como lobistas. Prefeitos que mantiveram contato com os religiosos confirmaram suspeitas de corrupção e pedidos de propina – um desses casos, inclusive, envolve o pedido de propina em ouro.

REAÇÕES

O episódio com o ministro gerou reações no Congresso e no Judiciário. Parlamentares da oposição afirmaram que a gravação indica favorecimento indevido aos pastores com verbas do Ministério da Educação.

Integrantes da própria Frente Parlamentar Evangélica também cobraram explicações.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apontou ao STF possíveis crimes de responsabilidade, e pediu o imediato afastamento de Milton Ribeiro. Enquanto isso, na Comissão de Educação do Senado, oposicionistas pediram a convocação de Ribeiro para depor aos senadores.

No Judiciário, a ministra Cármem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a abertura de inquérito para investigar o ministro, a pedido da Procuradoria-Geral da República.

Ainda outro inquérito foi aberto na Polícia Federal para apurar supostos repasses irregulares de verbas pelo MEC.

ÁUDIO

O áudio revelado pela Folha de S.Paulo foi gravado durante reunião dos pastores com prefeitos, no qual Milton Ribeiro estava presente.

“Porque a minha prioridade é atender primeiro aos municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, disse Ribeiro no áudio.

Segundo o ministro afirma na gravação, “foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”.

Ele ainda sugere uma contrapartida para os repasses.

— Então, o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas.

De acordo com a reportagem da Folha de S.Paulo, os recursos liberados por Ribeiro a municípios indicados pelos pastores são do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

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Derick Fernandes é jornalista profissional (MTB 10968/PR) e editor-chefe do Portal i24.
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