O Governo anunciou nesta segunda-feira (28) em uma edição extra no ‘Diário Oficial da União’, a saída do cargo de Milton Ribeiro, quarto ministro da Educação do presidente Jair Bolsonaro.
Pastor presbiteriano e professor, Milton Ribeiro estava no MEC desde julho do ano passado, e pediu exoneração depois de uma reunião com o presidente.
Segundo fontes do Palácio do Planalto, Bolsonaro já estava convencido a afastar Ribeiro depois que um escândalo de corrupção envolvendo pastores veio à tona.
Na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo revelou um áudio no qual Ribeiro diz repassar verbas do ministério para cidades indicadas por dois pastores, a pedido do presidente Jair Bolsonaro.
Os pastores a quem o ministro se referiu no áudio são Gilmar Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros da Assembleias de Deus no Brasil Cristo Para Todos (Conimadb), e Arilton Moura, ligado à igreja evangélica Assembleia de Deus.
Ambos não tinham cargo no governo, mas mesmo assim participavam de várias reuniões com autoridades e mantiveram encontros com Bolsonaro.
Milton Ribeiro negou o que disse no áudio, e afirmou que Bolsonaro “não pediu” favorecimento a pastores.
Na semana retrasada, o jornal “O Estado de S.Paulo” já havia publicado reportagem informando sobre a existência de um “gabinete paralelo” integrado por pastores no Ministério da Educação, com controle da agência e da verba da pasta.
A reportagem afirmava que Gilmar Santos e Arilton Moura têm trânsito livre no ministério e atuavam como lobistas. Prefeitos que mantiveram contato com os religiosos confirmaram suspeitas de corrupção e pedidos de propina – um desses casos, inclusive, envolve o pedido de propina em ouro.
REAÇÕES
O episódio com o ministro gerou reações no Congresso e no Judiciário. Parlamentares da oposição afirmaram que a gravação indica favorecimento indevido aos pastores com verbas do Ministério da Educação.
Integrantes da própria Frente Parlamentar Evangélica também cobraram explicações.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apontou ao STF possíveis crimes de responsabilidade, e pediu o imediato afastamento de Milton Ribeiro. Enquanto isso, na Comissão de Educação do Senado, oposicionistas pediram a convocação de Ribeiro para depor aos senadores.
No Judiciário, a ministra Cármem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a abertura de inquérito para investigar o ministro, a pedido da Procuradoria-Geral da República.
Ainda outro inquérito foi aberto na Polícia Federal para apurar supostos repasses irregulares de verbas pelo MEC.
ÁUDIO
O áudio revelado pela Folha de S.Paulo foi gravado durante reunião dos pastores com prefeitos, no qual Milton Ribeiro estava presente.
“Porque a minha prioridade é atender primeiro aos municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, disse Ribeiro no áudio.
Segundo o ministro afirma na gravação, “foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”.
Ele ainda sugere uma contrapartida para os repasses.
— Então, o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas.
De acordo com a reportagem da Folha de S.Paulo, os recursos liberados por Ribeiro a municípios indicados pelos pastores são do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).