Há aproximadamente 15 dias, a companhia Transportes Coletivos Grande Londrina proporcionou uma ingrata surpresa à sociedade londrinense, ao anunciar o fim de suas operações como concessionária do transporte público local, sobre o qual detém o monopólio há exatos 60 anos.
Tratou-se, clara e expressamente, de uma reação ao novo edital de licitação do serviço que havia sido divulgado dias antes pela prefeitura, embasada na discordância da empresa sobre alguns pontos fundamentais ali constantes – entre eles, o critério para seleção da nova concessionária simplesmente por menor preço, ao invés da combinação entre preço e técnica.
O que já tinha de cara de pressão sobre a prefeitura para um possível recuo quanto às condições estabelecidas no processo tornou-se descarado quando se falou na possibilidade de um lapso entre o fim das operações da TCGL – marcados para o dia 19 de janeiro, data em que expira o atual contrato – e o início da atuação da nova concessionária, ainda por definir. Segundo o diretor da atual operadora, Gildalmo Mendonça, a empresa prometia “não deixar a cidade na mão” nesse intervalo, mas esperava a contrapartida de “uma remuneração real do custo do sistema”. Trocando em miúdos: quer reajuste da tarifa de R$ 3,95 para R$ 4,60 já para o próximo mês de janeiro.
É interessante observar que a tarifa da TCGL praticamente só fez aumentar nos últimos anos, mesmo em períodos de crise econômica, quando o bolso do trabalhador foi diretamente afetado. Esse constante reajuste, nas palavras da concessionária, justifica-se numa questão “técnica”, que, dado seu caráter extremamente prático, é tratada como inquestionável pela direção da mesma. Mas como legitimar o encarecimento incessante do serviço quando a sua qualidade não acompanha essa progressão? Afinal, questões como a falta de manutenção e de investimento na frota e a logística equivocada de algumas linhas, que chegam a deixar determinados pontos da cidade praticamente inacessíveis, continuam afetando o dia a dia dos usuários.
Estamos diante de um caso clássico de monopólio, com todos os malefícios inerentes à sua existência. Quando não existe concorrência, a prestadora de serviços dita as regras que desejar, e tanto o estado como o povo são inevitavelmente seus reféns.
É bem verdade que o edital de licitação apresentado pela gestão municipal tem seus pontos frágeis. A ausência da combinação entre técnica e preço como critério na definição de uma nova prestadora de serviço, como enfatizado várias vezes à imprensa pela própria TCGL, de fato é um deles, assim como o timing equivocado da prefeitura, que só deu início ao processo quando já não era possível uma transição em tempo hábil.
Apoderar-se, porém, de todo esse contexto tão delicado para obter vantagem particular aos 45 minutos do segundo tempo, forçando um reajuste ilegítimo sob a ameaça velada de deixar o povo londrinense sem meios de locomoção, é uma verdadeira usurpação por parte da Transportes Coletivos Grande Londrina. Uma reação até natural, mas nem por isso justa, ao fim do monopólio que ela detém há décadas sobre o transporte coletivo de Londrina.
Muitas águas ainda podem rolar até que um parecer final seja dado para o presente impasse, tanto da parte da prefeitura como da concessionária. Até lá, porém, espera-se que o bom senso prevaleça e que o povo de Londrina não seja, mais uma vez, afetado pelo jogo de interesses que tantas vezes interferiu – para mal – na vida política da cidade e na rotina do cidadão de bem.