Câmara aprova PL que obriga presença de guardas nas escolas em Londrina

Em uma sessão marcada por debates acalorados, vereadores aprovaram texto quando já passava das 3h30 da manhã.

Derick Fernandes
8 min de leitura
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Ataque a escola de Cambé reacende debate na Câmara de Londrina sobre segurança nas instituições de ensino. Ao menos oito projetos de lei instituem medidas para coibir novos ataques

Os vereadores da Câmara Municipal de Londrina aprovaram por unanimidade, em regime de urgência, o Projeto de Lei (PL) 76/2023, de autoria da vereadora Mara Boca Aberta (Solidariedade), que obriga a prefeitura a manter pelo menos um guarda municipal nas escolas e creches da cidade, a fim de evitar novos episódios de ataques às instituições, como o que aconteceu na última segunda-feira (19) em Cambé, na Região Metropolitana.

A proposta está em trâmite desde maio, depois que ataques em uma creche de Santa Catarina provocaram comoção nacional e levantaram o debate sobre a segurança nas escolas para estudantes e funcionários. Apesar disso, o texto estava caminhando a passos lentos e só voltou a ser discutido após o ataque na Escola Estadual Professora Helena Kolody, que culminou na morte de dois estudantes de 16 anos.

Na primeira ocasião da votação que deliberava sobre o assunto, a maioria dos vereadores rejeitou o regime de urgência do projeto, por entender que pontos do texto poderiam ser inconstitucionais. O protocolo original previa que a prefeitura de Londrina deveria disponibilizar guardas, ou contratar vigilantes para as escolas, incluindo as estaduais e particulares.

A abrangência ampla da proposta gerou debates acalorados e questionamentos jurídicos, resultando no impasse na Câmara Municipal de Londrina. A ideia de colocar seguranças nas escolas é vista como uma medida importante para garantir um ambiente seguro e tranquilo para alunos, professores e toda a comunidade escolar. No entanto, a necessidade de ajustes no projeto impediu seu avanço inicial e implementação efetiva.

Pressão popular

Desde o ataque em Cambé, na segunda-feira, os vereadores da base estavam sendo pressionados a se posicionarem a favor do texto, após circular em grupos nas redes sociais uma lista com os nomes dos parlamentares que antes haviam votado contra o trâmite de urgência.

Ao 24H News, o vereador Mestre Madureira (PP) ressaltou que o texto original continha erros de interpretação, que poderiam invalidar a intenção. “Se aprovássemos do jeito que estava, a lei iria esbarrar no Tribunal de Contas, uma vez que a prefeitura não poderia ficar responsável por custear segurança para escolas estaduais e particulares, já que elas não fazem parte do sistema municipal de ensino, essas sim de responsabilidade do Executivo local“.

O vereador Matheus Thum corroborou com o que disse Madureira e apresentou um substitutivo ao texto, adequando a proposta dentro da legalidade. “A intenção de colocar segurança nas escolas é válida e muito importante, mas precisávamos chegar a esse consenso. Do jeito que estava, iria acarretar em custos para a prefeitura, além de incorrer em improbidade administrativa, uma vez que o município não pode contratar seguranças para escolas privadas, por exemplo, já que essas são entidades particulares e funcionam como uma empresa“, explicou.

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Vereador Matheus Thum apresentou substitutivo ao texto original – Foto: Devanir Parra

Apesar disso, a alteração proposta por Thum não incluiu diretamente as creches filantrópicas, que não fazem parte da rede municipal, mas são conveniadas com a prefeitura e recebem recursos públicos. A inclusão dessas entidades aconteceu por meio de emenda apresentada pelo vereador Santão (PSC) e deve ser regulamentada pela Secretaria de Educação.

As CEIs – como são chamadas as creches filantrópicas – passariam a ter a responsabilidade de incluir no plano anual, apresentado à prefeitura, os custos com a contratação de vigilantes para fazer a segurança das instituições. Dessa forma, elas teriam acesso a mais recursos para bancar a medida, já que os guardas municipais ficam limitados apenas às escolas do município.

Noite adentro

A sessão que terminou com a aprovação da medida seguiu até por volta das 4h da manhã, já desta quarta-feira (21), e foi marcada por discussões e debates sobre o tema. A autora do projeto, vereadora Mara Boca Aberta, se irritou quando foi informada em cima da hora que a casa deliberaria sobre o tema em regime de urgência.

Para ela, o texto original poderia já ter sido discutido em plenário, ao mesmo passo que as correções ao PL aconteceriam por meio de emendas, ou substitutivos, como o apresentado por Matheus Thum:

Essa proposta já era para ser efetiva desde maio, se não fosse a rejeição do trâmite de urgência naquela vez. Me surpreende muito que os vereadores que votaram contra o PL naquela ocasião, agora mudem de ideia e aprovem a urgência, sem ao menos falarem comigo; Acho que é a pressão populares que surtiu efeito e abriu os olhos deles”

Mara Boca Aberta, vereadora

Apesar da polêmica que envolveu a aprovação do regime de urgência, Mara comemorou a retomada da discussão, e a consequente aprovação do texto. “O importante é a segurança nas escolas, e é essa a essência do projeto. Levar tranquilidade aos pais e alunos“, disse.

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Mara comemorou a retomada da discussão. Vereadora disse que prioridade é tratar sobre a questão da segurança nas escolas – Foto: Devanir Parra

Mara também lembrou que as emendas ao texto original, que foram apontadas como inconstitucionais pelos vereadores de base, na realidade são partes de outros projetos semelhantes, incorporadas à proposta: “O projeto inicial é meu, mas ele também tem a coautoria dos vereadores Chavão (Patriota), Roberto Fu (PDT) e Giovani Mattos (Podemos). Então, o texto original acabou contemplando também as escolas estaduais e particulares, que por sua vez geraram essa discussão e toda a polêmica em torno do tema“, salientou.

Mara, Fu, Chavão e Mattos apresentaram o substitutivo número 2, que previa a presença de agentes de segurança armados em todas as escolas públicas municipais, CMEIs e CEIs. O substitutivo permitia a contratação de vigilância privada na ausência ou impossibilidade dos guardas municipais. No entanto, o substitutivo nº 2 foi rejeitado em plenário por 15 votos a 4, com apenas os autores votando a favor.

A Câmara de Londrina volta a discutir o PL 76/2023 na sessão de quinta-feira (22).

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