A exibição de uma peça teatral no Colégio Estadual Hugo Simas, em Londrina, revoltou uma mãe que gravou um vídeo questionando a direção da instituição. A gravação da advogada Fernanda Leite Carvalhaes viralizou nas redes sociais e chegou a Brasília, fazendo com que o deputado federal Filipe Barros (PSL-PR) fizesse quatro denúncias contra o colégio no Ministério da Educação, Ministério da Família, no Núcleo Regional e no Ministério Público.
Segundo Fernanda, a peça teatral exibiu um beijo homossexual para adolescentes de 16 e 17 nos. “Isso é passar a mão na minha cara. É interferir na educação dos nossos filhos, das nossas crianças. Minha filha não pode abraçar o namorado dela na escola que é repreendida”, contou.
Mas segundo a mulher, o problema não foi esse. A peça apresentada por um movimento coletivo socialista de São Paulo, segundo ela, também incitou o “boicote ao estado”, a “invasão a escolas” e fez críticas à Polícia Militar.
A encenação denominada “Quando Quebra a Queima” trás justamente a história das ocupações a escolas estaduais registradas em todo o Brasil no ano de 2016. O movimento começou por alunos do Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba, e acabou ganhando dimensões nacionais contra o fechamento de escolas e de turmas propostas pelos governos estaduais. Mais de 350 escolas foram ocupadas na ocasião.
A mãe ainda disse que a filha dela, que tem 17 anos, pediu para ser dispensada do colégio, mas que o pedido foi negado pela diretoria. “Eles disseram que quem saísse da peça levaria cinco faltas”. A direção da escola, porém, negou a informação e disse que apresentação se tratava de uma atividade extracurricular, e que não é autorizada por procedimento padrão a liberar alunos antes do horário.
VEJA O VÍDEO:
ESCOLA SE PRONUNCIOU
A reportagem do 24Horas entrou em contato com a direção do Colégio Estadual Hugo Simas, que enviou nota oficial esclarecendo o episódio. Segundo o colégio, Fernanda fez uma “interpretação equivocada” do conteúdo da peça e do contexto da situação (leia na íntegra abaixo).
Segundo a própria direção, a peça seria exibida inicialmente no Colégio Adélia Barbosa, na Zona Norte, mas acabou sendo transferida ao Hugo Simas por conta de inviabilidade técnica. A organização do Festival Internacional de Londrina (FILO) responsável pela apresentação, solicitou via ofício a autorização para a encenação do teatro.
“O nosso colégio é a instituição pública mais antiga da cidade, e nestes mais de 80 anos, vem cumprindo um papel fundamental na disseminação da cultura e da produção artística na cidade. Cabe ressaltar, ainda, que nos últimos anos a escola também acolheu o Festival Internacional de Música de Londrina, demonstrando que o Projeto Político Pedagógico da escola tem, no diálogo e no envolvimento da comunidade escolar, um aspecto fundamental.” diz outro trecho da nota.
DENÚNCIA
O deputado Filipe Barros chegou a se pronunciar sobre a polêmica. Segundo o parlamentar, ele entrou em contato com a mulher e pediu mais detalhes sobre o caso. “Entrei em contato com a mãe e estou registrando quatro denúncias contra a escola para punir professores, pedagogos e a direção do colégio que vai ter que prestar esclarecimentos”.
Segundo o deputado, pelo que a mãe disse, a peça teatral fere o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) e trata-se de uma doutrinação ideológica. “Mais um caso como este acontece em nossa cidade. Já aconteceu no IEEL, e eu estive lá, e agora acontece no Hugo Simas, a escola mais antiga da nossa cidade. Isso é uma vergonha e precisa ser combatido”, disse Filipe.
Ele gravou um vídeo onde relata as providências que está tomando:
LEIA NA ÍNTEGRA A NOTA DO COLÉGIO HUGO SIMAS:
Nota oficial de esclarecimento sobre a apresentação do espetáculo do FILO (Festival Internacional de Londrina)- “Quando Quebra Queima”, ocorrido na última sexta-feira, dia 01/11, no Colégio Estadual Hugo Simas:
A direção do Colégio Estadual Hugo Simas, diante dos últimos acontecimentos, vem a público prestar os seguintes esclarecimentos acerca da apresentação teatral do FILO – Festival Internacional de Londrina, realizada nesta instituição de ensino na última sexta-feira, 01 de novembro de 2019, no período noturno.
Inicialmente, cumpre informar que a mencionada atividade cultural faz parte da programação do FILO, um dos mais importantes eventos culturais realizados anualmente nesta cidade. Ademais, esclarece-se que a apresentação estava programada para ocorrer em outra escola estadual do município de Londrina e, diante da impossibilidade de se realizar o espetáculo no local previamente agendado (inviabilidade técnica), a organização do Festival solicitou que a atividade ocorresse no Colégio Estadual Hugo Simas, o que foi prontamente atendido.
O nosso colégio é a instituição pública mais antiga da cidade, e nestes mais de 80 anos, vem cumprindo um papel fundamental na disseminação da cultura e da produção artística na cidade. Cabe ressaltar, ainda, que nos últimos anos a escola também acolheu o Festival Internacional de Música de Londrina, demonstrando que o Projeto Político Pedagógico da escola tem, no diálogo e no envolvimento da comunidade escolar, um aspecto fundamental.
O espetáculo, “Quando Quebra Queima”, tem classificação indicativa de 10 anos, foi um evento público, aberto à comunidade e contou com a participação dos estudantes do Ensino Médio do período noturno do colégio. A apresentação procurou trabalhar a questão das juventudes, da valorização da diversidade, do acesso à educação, dentre outros temas importantes na formação dos jovens na atualidade. A organização do FILO, ao fazer contato com a direção escolar, informou que o grupo artístico e o espetáculo já foram apresentados na Mostra Internacional de São Paulo/Paralela e em outros importantes festivais do Brasil e do Mundo.
As temáticas abordadas na apresentação compõem as Diretrizes Estaduais da Educação de várias disciplinas que estão previstas na organização curricular do Ensino Médio no Paraná. Ademais, o respeito à diversidade, a liberdade de aprender e ensinar e o pluralismo de ideias encontram proteção no texto da Constituição Federal (CF, art. 3o, inc. IV e art. 206, inc.II), na Lei de Diretrizes e Bases da Educação e em diversas leis e instruções normativas estaduais, tais como a lei n? 16.454/2010, que instituiu o Dia Estadual de Combate a Homofobia no Paraná e a Instrução n? 010/2010-SUED/SEED, que regulamenta a ação das Equipes Multidisciplinares para tratar da Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira, Africana e Indígena.
Diante das informações equivocadas que circulam na imprensa e nas redes sociais, é oportuno ressaltar que, por se tratar de uma atividade escolar, se faz necessário o controle de frequência dos estudantes. A direção escolar, de forma responsável, como sempre faz, não autoriza a dispensa de estudantes menores sem autorização de pais e ou responsáveis. Além disso, a lei estadual n.?18.118/14 proíbe o uso de aparelhos/equipamentos eletrônicos durante os horários de aulas em estabelecimentos de ensino. Outrossim, permitir a filmagem de um espetáculo teatral viola os direitos autorais e expõe a imagem dos adolescentes de forma indevida.
A interpretação equivocada da atividade supracitada gera uma exposição, criminalização e insegurança dos professores (as) e funcionários (as) da escola, bem como prejudica o desenvolvimento das atividades escolares. O nosso colégio tem uma História de contribuição com a construção de uma educação pública e de qualidade em Londrina, além disso, conta com um quadro de docentes altamente qualificados e comprometidos com o ensino, conforme também observado nas últimas avaliações externas, como Prova Paraná, SAEP e Prova Brasil, levando ao aumento em nosso índice do IDEB.
Por fim, a escola reafirma seu compromisso com o diálogo aberto, democrático e com uma educação pública e de qualidade.
Atenciosamente,
Direção do Colégio Estadual Hugo Simas