Witzel deixa CPI e pede nova sessão em segredo de Justiça

Derick Fernandes
6 min de leitura
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Foto: Lula Marques

O governador cassado do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC) se retirou da sessão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19 no Senado, após depor por cerca de 3 horas e 40 minutos. Ele tomou a decisão com amparo em um habeas corpus concedido pelo ministro Kassio Nunes Marques, do STF.

A decisão deu ao ex-governador o direito de não comparecer, ou se decidisse ir mesmo assim, o de ficar calado diante de questionamentos que pudessem produzir provas contra ele na investigação de qual é alvo na Justiça Federal do Rio de Janeiro.

Witzel, que é ex-juiz federal, também pediu à CPI para convidá-lo a nova sessão, dessa vez sob segredo de Justiça, na qual ele teria a oportunidade de apresentar provas de que seu impeachment foi patrocinado por Organizações Sociais (OSs) ligadas aos desvios de recursos da saúde do Rio.

A CPI pode deferir, sob segredo de Justiça – e aqui vai uma sugestão –, sob segredo de Justiça, deferir, com o apoio do Supremo Tribunal Federal, medidas cautelares de busca e apreensão de celular, de documentos, de forma sigilosa, com o apoio do Supremo, para nós sabermos quem é que está por trás do meu impeachment, porque, por trás do meu impeachment, estão aqueles que se aliaram a esse discurso, esse discurso de perseguição aos governadores“, declarou Witzel.

Ele insinuou existir um conluio entre a subprocuradora-geral da República, Lindora Araújo, responsável por investigar governadores, e um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em agosto do ano passado, Witzel foi afastado do cargo por 180 dias antes de sofrer impeachment. A decisão de afastá-lo partiu do ministro Benedito Gonçalves, do STF.

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Senadores Flávio Bolsonaro e Eduardo Girão conversam durante depoimento de Witzel na CPI – Foto: Lula Marques

No contexto de suas queixas sobre a atuação de Lindora o ex-governador defendeu a necessidade da CPI aprovar, em conjunto com o STF, medidas cautelares em segredo de justiça antes de uma eventual convocação da subprocuradora-geral .

Vou falar aqui, sem nominar o fato, mas farei reservadamente, que houve conversas ao longo da noite com Ministro do STJ para poder fazer busca e apreensão em Estados da Federação. E, assim como nós vimos o julgamento no Supremo Tribunal Federal, não cabe ao magistrado se reunir até altas horas da noite com quem quer que seja, principalmente do Ministério Público, para tomar uma decisão“, disse.

O ex-governador carioca também sugeriu que fosse quebrado o sigilo telefônico de Cláudio Castro, atual governador do Rio, que o substituiu depois da confirmação do impeachment. Segundo Witzel, Castro estava em Brasília no dia em que o Tribunal Especial Misto, composto por deputados da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e desembargadores do TJ-RJ o afastaram do cargo.

MORTE DE MARIELLE

Wilson Witzel também tentou traçar uma ligação direta entre a prisão de dois suspeitos de participar do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e o início do que chamou de “perseguição” do presidente Jair Bolsonaro contra ele.

Quando foram presos os dois executores da Marielle, o meu calvário e a perseguição contra mim foram inexoráveis. Ver um Presidente da República, numa live lá em Dubai, acordar na madrugada para me atacar, para dizer que eu estava manipulando a polícia do meu Estado; ou seja, quantos crimes de responsabilidade esse homem vai ter que cometer até que alguém o pare? E, se nós não pararmos, esta república chavista ao contrário vai avançar cada vez mais e o nosso País é quem mais vai sofrer com o que nós estamos vivenciando hoje“, sustentou Witzel.

Como exemplo da perseguição que ele disse ter sofrido, Witzel alegou que, no enfrentamento à pandemia, pediu a Bolsonaro para assumir a gestão de 600 leitos em hospitais federais no Rio, mas o presidente teria negado. Disse ainda que tentou, então, abrir 1.500 leitos em hospitais de campanha, o que teria sido sabotado por deputados estaduais bolsonaristas, que faziam carreatas contra as medidas de restrição.

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Senador Flávio Bolsonaro argumenta contra Witzel na CPI – Foto: Lula Marques

RETIRADA DA CPI

A jornalistas, depois de abandonar a CPI, Witzel justificou que sua decisão se deu pelo que chamou de “ofensas chulas” de senadores aliados ao governo.

O ex-governador se envolveu em vários bate-bocas na sessão. O principal teve a participação do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) que é filho do presidente e não integra a comissão.

A discussão se originou em um pedido de um dos advogados de Witzel para que o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) determinasse a retirada da sala do deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), alegando que sua presença estaria violando as regras de acesso à comissão.

O pedido foi negado, e Flávio Bolsonaro reagiu ironizando: “Tenha medo não, doutor.”

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