O São Paulo enfrenta uma das maiores crises de sua história, marcada por conflitos entre a diretoria e o departamento de futebol, estrangulamento financeiro e a polêmica proposta de venda parcial e parceria das categorias de base de Cotia.
Nota Oficial e Conflito executivo
Na última quinta-feira (12), o jornalista Paulo Vinicius Coelho (PVC) revelou que há um atrito entre a presidência e o departamento de futebol do São Paulo, especialmente sobre a viabilidade do teto orçamentário de R$350 milhões para a temporada de 2025. Segundo ele, membros do clube suspeitam que o presidente Julio Casares poderia “desidratar” o futebol para justificar a transformação do São Paulo em Sociedade Anônima de Futebol (SAF), com ele mesmo como CEO.
Em resposta às informações divulgadas pela imprensa, o clube publicou uma nota oficial, assinada por Carlos Belmonte, Rui Costa, Nelson Ferreira e Fernando Bracalle Ambrogi. O comunicado garantiu que a reunião com os gestores do fundo Galápagos foi positiva e afirmou não haver desentendimentos entre o presidente Julio Casares e o departamento de futebol.
Comunicado na íntegra:
Crise Política e Questionamentos Estatutários
Em meio às informações, o presidente Júlio Casares cogitou mudanças na diretoria de futebol, e Carlos Belmonte seria o principal alvo, uma vez que o diretor estaria “batendo de frente” com a estrutura financeira montada pelo mandatário e FIDC (Fundo de investimento em Direitos Creditórios). O diretor de futebol tricolor foi questionado pelo jornalista Gabriel Sá sobre a ausência de seu nome na documentação oficial de votos sobre a aprovação do fundo realizada pelo Conselho Deliberativo do clube. Em resposta, afirmou ter cometido um erro na documentação, e por isso seu voto não estava contabilizado, mas havia discursado favoravelmente no pleito.
Na tarde desta sexta-feira (13), uma reunião entre diretoria e departamento de futebol ajudou a amenizar as tensões, com a decisão de manter Belmonte e os diretores no cargo. Entretanto, o clube ainda precisa lidar com o descontentamento da torcida, os desafios de equilibrar suas finanças e a pressão por uma administração mais transparente e eficiente.
Vale ressaltar que a posição de Carlos Belmonte como diretor de futebol e conselheiro do clube também gera controvérsias. O artigo 57 do estatuto do São Paulo FC determina a exclusão automática de conselheiros que assumam cargos na Diretoria Executiva. Em 16 de dezembro de 2021, o Conselho Deliberativo votou uma proposta de alteração desse artigo, mas a nova redação foi vetada pelos sócios. Assim, Carlos Belmonte, diretor não remunerado e conselheiro, deveria ser excluído do quadro de conselheiros, conforme o estatuto vigente.
FIDC: O Fundo e as Dificuldades
Criado para reestruturar uma dívida bancária de R$217,5 milhões, o FIDC visava captar R$240 milhões para quitar débitos, reduzir custos financeiros e melhorar prazos de pagamento. A dívida total do clube, porém, vai muito além: estimativas indicam que o passivo ultrapassa os R$800 milhões, agravado pelo déficit desta temporada, que deve girar em torno de R$210 milhões, recorde negativo na história do clube.
Como parte do acordo do FIDC, o clube se comprometeu a limitar os gastos do futebol a R$350 milhões anuais. Recentemente, surgiram relatos de dificuldades no cumprimento desse limite, principalmente em relação ao fluxo de caixa e as datas de repasses. Uma reunião com gestores do fundo foi considerada “positiva”, mas não eliminou as preocupações sobre a sustentabilidade financeira.
O orçamento de 2025, que será votado pelo Conselho Deliberativo na próxima segunda-feira (16), projeta receitas de R$859,9 milhões, despesas de R$815,1 milhões e um superávit de R$44,8 milhões. Contudo, as despesas com o futebol, estimadas em R$493,4 milhões, superam o teto acordado.
Venda ou parceria em Cotia:
O São Paulo negocia uma parceria para suas categorias de base com o magnata Evangelos Marinakis, dono de Nottingham Forest (Inglaterra), Olympiacos (Grécia) e Rio Ave (Portugal). O Globo Esporte revelou que o grego já se reuniu com o presidente Júlio Casares em duas ocasiões, uma no Brasil e outra na Inglaterra, para discutir os detalhes da parceria. Além disso, o site afirma que o tricolor não tem interesse em vender sua categoria de base.
O vazamento do nome vem logo após João Pedro Sgarbi, jornalista esportivo da Band, informar que o clube discute a negociação parcial de Cotia, destacando que o objetivo do investidor é aprimorar a formação de atletas e lucrar com futuras vendas. Gabriel Sá complementou a informação, afirmando que o tricolor se manteria sócio majoritário, com 60%, enquanto o investidor ficaria com 40%.
Os valores (ainda mantidos em sigilo), agradam a cúpula Tricolor. Segundo Sgarbi e Zanquetta (dono da página Blog do São Paulo), os diretores do clube falam em cifras acima das praticadas nas vendas dos clubes brasileiros em sua integralidade.
A parceria com Marinakis não envolve a transferência de controle das categorias de base. As conversas giram em torno de um intercâmbio para aumentar o poder de investimento em Cotia, promover trocas de jogadores e profissionais, além de dobrar o potencial do clube em contratar jovens talentos antes do profissional.
Entre as contrapartidas discutidas, está a participação de Marinakis nos lucros das vendas de atletas formados em Cotia após o início da parceria. Além disso, o projeto seria firmado por um período determinado, possivelmente três anos.
A torcida, no entanto, reage veemente contra a negociação. Para muitos, o presidente Julio Casares estaria comprometendo o maior patrimônio do clube, responsável por grandes conquistas durante a história, como a Copa do Brasil de 2023, onde jogadores fundamentais na campanha, como Diego Costa, Wellington, Beraldo, Pablo Maia, Rodrigo Nestor e Lucas Moura, foram todos formados em Cotia.
Evangelos Marinakis
O magnata, cuja fortuna foi construída principalmente no setor marítimo, tem um histórico de sucesso no futebol, mas também carrega controvérsias. Marinakis foi investigado por manipulação de resultados e corrupção de árbitros, mas foi absolvido.